28/09/2010

Yasunari Kawabata: a mulher e o sexo



"Kikuji sentia-se como estando a possuir uma mulher pela primeira vez, ao mesmo tempo que se apossava dele a sensação se estar a realizar como um verdadeiro homem. Era um extraorinário despertar dos sentidos. Ele nunca poderia ter imaginado que uma mulher pudesse ser assim tão dada e receptiva. Kikuji correspondia à sua plena oferta, de todo seduzido - e cada vez mais se inebriava no perfume daquele corpo quente..."

Yasunari Kawabata, Chá e Amor (há outra tradução em que o título é "Mil Grous")

Este livro de Kawabata (e outros, como o de Tanikazi que referi há dias) ou algum cinema japonês que conheço (o que é muito pouco), como o de Kurosawa (por exemplo, "Tokyo Sonata") ou de Takeshi Kitano (por exemplo, o fortíssimo "Dolls"), levam-me a pensar sobre um assunto que, quer-me parecer, aqui tem importância imensa: os papéis sociais do homem/ mulher (na forma como são sociologicamente apreendidos, para lá de qualquer juízo apriorístico ocidental). Essa auto-percepção, pela sociedade japonesa, parece estar muito mais enraízada do que na Europa e a estanquicidade não conhece brechas. Uma forma onde isso se manifesta de modo pungente é na sexualidade (e também aqui, no modo como são percebidos os papéis de uns e outros), muito em particular no modo como a arte a retrata. Aí, no campo ficcional, literário ou cinematográfico, há um grito matriarcal de força, como se o gineceu não pudesse mais calar-se.

É preciso tudo ver para tudo almejar compreender.

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