03/09/2010


A BÉLGICA, OS SERVIÇOS E A MEMÓRIA



A maior sabedoria inscrita no livro da memória é a sua capacidade depuradora: hoje, quando olho para os tempos de Luanda, só já me lembro das tardes de domingo no Mussulo, dos jantares na Ilha, dos serões com os amigos, da ausência de pressas, do sorriso da baía. Tenho a certeza que o mesmo me acontecerá com a Bélgica (e na próxima semana aqui farei uma elogia belga) mas, por ora, na hora da despedida, na hora de rescindir contratos, fechar assuntos pendentes e arrumar a casa a irritabilidade anda a flor da pele. Tenho sincera dificuldade em perceber a disfuncionalidade institucional (belo diplomatês) do sector dos serviços. Telefone: tem de se rescindir o contrato presencialmente num balcão. Internet: pode-se rescindir pelo telefone mas tem de ser o próprio (mesmo que um terceiro, a meu pedido, esteja munido de todos os elementos necessários). Telemóvel: uma batalha cujo fim não se avista porque dizem que não posso rescindir antes de 2011 (contrato implica fidelização, etc), embora eu já tenha explicado dez vezes que deixo o país e que não quero nem preciso de telefone belga. Mas o sector mais estranho (até por comparação com Portugal, onde isso funciona muito bem) é o sector bancário. Ir ao banco exige determinação e paciência. Fechar uma conta sem perder os nervos é um desafio que leva ao nobel da paz e o facies dos interlocutores permanece impávido ao dizer que demora 15 dias a transferir para a minha conta o saldo da 'garantia locativa' (quando a verba foi transferida da minha conta para o próprio banco levou apenas 24 horas). E tudo isto se passa em francês... imagino quando tiver de fazer o mesmo em japonês!

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