23/09/2010



Shibuya, os corpos e Don DeLillo











Em Setembro de 2001, no seguimento do caos que se instalou nos aeroportos, perdi, numa sala de embarque do aeroporto de Zurique, um livro de me tenho lembrado por estes dias - "O corpo enquanto arte", de Don DeLillo. Foi isso que me veio ao espírito, sentado numa mesa do Starbucks de Shibuya, num 2º andar, a observar "o" cruzamento. Sim: "o" o cruzamento. Aquele é o cruzamento do mundo. Ao sinal verde a mole avança como um corpo só. E é justamente isso que torna aquele um dos mais singulares de todos os lugares: a multidão despedaçada que se junta à beira duma passadeira e avança, num caminho de quase reencontro, como ao som duma orquestra dum bailado clássico, caminhando como pedra bruta, única, inconsútil. Só observadores distraídos poderiam dizer que em Shibuya se celebra a desordem da cidade. Não: no cruzamento de Shibuya resgata-se uma estética que alguns têm julgado perdido nas malhas intrincadas do fascinante tecido urbano. Nos milhões de pessoas que diariamente atravessam o cruzamento pentagonal de Shibuya há milhões de estetas protagonistas do que há de mais raro, e, por isso, de mais precioso, no estranho mundo da contemporaneidade: o confronto com a beleza extrema.

(1ª sequência de fotografias: um minuto de travessia em Shibuya durante o dia; 2ª sequência: o mesmo à noite)









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