A lula contra-ataca (em japonês)
Quando cheguei à caixa para pagar a embalagem da lula gigante recheada com arroz, a menina apontou para a dita, sorriu esgalhada e, com ar semi-aflito, balbuciou qualquer coisa. Tinha ar de quem lançava um apelo lancinante, um aviso à navegação, um grito de alma incontido. Sorri e disse que não falava japonês. Ela permaneceu impávida, continuou e elevou a voz (que atire a primeira pedra quem nunca achou que falar mais alto era a técnica de tornar compreensível uma língua lontana). Repeti a minha mensagem de ignorância mas ela não queria saber e apontava a lula, agora com postura semi-imperatorial, temperada mesmo com laivos de violência. Seria pesca ilegal? Estaria fora do prazo? Provocaria algum desarranjo? O que me queria ela explicar? Que fosso intransponível se cavou entre nós tendo como pretexto uma lula?
Sem me dar por vencido, trouxe a lula para casa e fiquei a olhar para ela, em tenaz movimento giratório no prato do micro-ondas. Comi - confesso - com um ligeiro (vá lá: ligeiríssimo) receio. Mas tirando o facto de ser uma lula seca e dura (quase hirta, dir-se-ia), não me pareceu levantar problemas. Até agora, pelo menos. De qualquer modo, há uma mensagem a extrair da lula japonesa. Só falta saber qual.
Estaria a perguntar-te se querias pauzinhos para a comer?
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