28/02/2011

Notes from Osaka

1. I'm told to be ready at 6.28pm. Enter the room at 6.30pm. Will be introduced to people for 4 minutes and deliver my speech. This is Japanese precision.

2. Osaka is booming - the remains of the past are gone (WW II and earthquakes) and what one sees on the street is a vibrant, young and dynamic society. It's not a big town, they tell me. Only 4 million inhabitants. Yeah...

3. Osaka proudly carries the tittle of Japan's gastronomic capital. No doubt. From the okonomiaki to the banana pudding, I dont know which one I liked the most.

4. Dinner of the Japan-Portugal society. 110 participants in a Madeira and Port wine promotion event. Lecture about PT wines and castela cake (goes with Madeira) and chocolate mousse (goes with Port, see photo). Amazing people and an immense love for Portugal.

27/02/2011

Domingo de versos - T.S.Eliot





Only those who will risk going too far
can possibly find out
how far they can go.

T.S.Eliot

25/02/2011

Tratado em que se contêm muito sucintamente e abreviadamente algumas contradições e diferenças de costumes entre a gente da Europa e desta província do Japão



Os quase 5 séculos de presença portuguesa no Japão são, em primeiro lugar, tributários dos jesuítas. Estes 500 anos são marcados por homens notabilíssimos que, sendo missionários, aqui aportaram trazendo a cruz numa mão e a fineza de espírito e o cosmopolitismo na outra. Esta semana, li um livro de um deles, Luís Fróis que, em 1585 conclui o Tratado em que se contêm muito sucintamente e abreviadamente algumas contradições e diferenças de costumes entre a gente da Europa e desta província do Japão.

Fróis nasceu em Lisboa em 1532 e chegou ao Japão em 1562, onde viveu até 1597, ano em que morreu em Nagasáqui. O livro, notável, que assinou durante a sua estada, foi reeditado em 2001 pelo Instituto Português do Oriente. Não pode ser lido, nos dias de hoje, como qualquer esboço de tipo antropológico mas é um documento precioso para compreendermos os homens de quinhentos: os de Portugal e os desta província do Japão, o modo como uns e outros se olhavam, as desconfianças mútuas e as ligações que se estabeleciam, quer as baseadas na compreensão, quer as da incompreensão.

O livro está dividido em 14 capítulos temáticos: os homens, as mulheres, as crianças, os religiosos, os templos, a comida, as armas, os cavalos, as doenças, a escrita, as casas, os barcos, os autos e os "extras". Ao longo de centenas de pontos, Fróis compara com detalhe os modos de europeus e "japões".

Alguns exemplos:

"Entre nós a gente lava o corpo em suas casas muito escondidos; em Japão homens e mulheres e bonzos em banhos públicos ou à noite às suas portas.

(...)

Em Europa ordinariamente as mulheres fazem de comer; em Japão o fazem os homens, e os fidalgos têm por primor ir fazê-lo à cozinha.

(...)

Onde as derradeiras folhas de nossos livros de acabam, ali começam os deles".

24/02/2011


A surpresa de Ronaldo





"Perdi para o meu corpo".

O homem que pensávamos que só sabia dar chutos na bola deu-nos há dias uma das mais bonitas frases dos últimos tempos. "Perdi para o meu corpo" - e em cinco palavras Ronaldo relembrou-nos uma tradição de pensamento que certa concepção judaico-cristã matou, que Kierkegaard resgatou e que a arte contemporânea (de Pina Bausch a Anna Teresa De Keersmaeker, de Gilbert & Georges a Bourgeouis) não se cansa de celebrar. Perdi para o meu corpo - o dilema de Dorian Gray, vivido por Ronaldo.

23/02/2011


Será que os protestos de Tahrir chegaram a Tóquio?



Saio de casa de manhã cedo e vejo o que não é habitual. Camiões a circular, reforço policial nos cruzamentos, homens da câmara por todo o lado, pás e carrinhos de mão, painéis afixados a pedir cautela. Será a guerra? Será que os vizinhos estão a invadir o Japão? Será que os protestos da Praça Tahrir chegaram a Azabu?

Nada disso - acontece apenas que de noite caíu um nevão inabitual em Tóquio e todo o pessoal policial e camarário está já de imediato em operação para limpar tudo e evitar acidentes. Parece mesmo Bruxelas: caiam três flocos de neve e o aeroporto fechava...

22/02/2011

A beleza oculta do sumo



Pela primeira vez desde a 2ª guerra mundial, o campeonato de sumo acaba de ser anulado. Este desporto tão tradicional, velho de séculos e conhecido localmente como "o desporto dos imperadores", acaba de sofrer um golpe duro. Foi descoberto que o campeonato estava envolvido num escândalo de corrupção onde jogadores de topo pagavam e recebiam valores (ridículos, de resto) para adulterar os resultados e manipular promoções e despromoções.

Mais uma vez, aqui como em tantos outros domínios, não será fácil a um estranho perceber o requinte que pode ter um desporto onde dois homens de compleição avantajada se degladiam e se empurram para fora de uma linha circular. Mas a verdade é que o sumo tem raízes ancestrais e integra elmentos religiosos xintoístas. O caso agora descoberto trouxe o sumo para as primeiras páginas dos jornais e não deixa de surpreender que homens daquele calibre surjam perante as câmaras de olhos marejados e, envergonhados, façam uma vénia vincada a pedir clemência da nação.

21/02/2011

Um pelintra europeu de volta a casa




Os chocolates em Tóquio vendem-se nas boas casas (adoro a expressão), como jóias se vendem na Europa. Há aqui a Godiva ou o Leonidas, mesmo o meu adorado Marcolini mas há depois marcas como Lanvin ou H que são menos (ou nada) conhecidas na Europa. Evidentemente, os chocolates são tão caros que não se vendem à caixa - como em Bruxelas - mas à unidade. É perfeitamente normal ir a uma destas lojas requintadíssimas e pedir um pequeno saco com 2 bombons e trazer para casa para um jantar romântico (ou não).

Nesta lógica, alguém em contava há dias que, tendo vivido em Tóquio alguns anos, voltou à Europa e entrou numa chocolataria dessas muito conhecidas. Pediu, como sempre fazia, dois bombons. A empregada olhou com desprezo e admiração e respondeu: "Madam, the minimum is five...".

20/02/2011

Domingo de versos - Eduardo Pitta



Temos que baste
a pátria à janela
e a vontade na cama

Eduardo Pitta

18/02/2011


Isto anda tudo ligado...



Há dias estive em Yokohama (segunda cidade do Japão e onde se encontra a maior China-town do mundo fora da China - ver foto acima), para uma reunião de trabalho. No decurso do almoço, também de trabalho, o meu interlocutor explicava-me com detalhe o tipo de plantações florestais na ilha da Madeira e a sua importância para a manutenção do equilíbrio do ecossistema local. E foi quando ele disse aquela palavra - ecossistema - que se fez luz no meu espírito sobre o modo de "desatar" um nó górdio de um texto sobre Maria Gabriela Llansol em que ando a matutar.

À partida dir-se-ia que as coisas não têm nada a ver uma com a outra: uma reunião técnica em Yokohama sobre plantações florestais sustentáveis e os intrincados meandros literários de uma escritora portuguesa exilada na Bélgica. Mas foi assim: o ecossistema biológico madeirense, de repente, foi chave interpretativa do ecossistema literário llansoliano. Há coisas que não se explicam.


17/02/2011


O GRANDE BUDA DE KAMAKURA



Kamakura é uma cidade costeira a 30 quilómetros de Tóquio onde co-existem surfistas alternativos e monjes piedosos. O seu ícone mais famoso é uma estátua de Buda construída no século XIII, que pesa 93 toneladas e tem quase 14m de altura. Resistiu a 800 anos de intempéries e terramotos e desde os anos 60 que tem uma estrutura antí-sismica.

Uma curiosidade: quando Obama veio ao Japão em Novembro passado, foi o único sítio "turístico" que visitou na aberta do programa oficial.

16/02/2011


Sobre a vida sexual de Keynes



Há dias, a ler "Ravelstein" de Saul Bellow, descobri que Keynes era gay. O facto em si é totalmente irrelevante e apenas me surpreendeu porque vai contra uma estória que o meu professor de Economia Política contava nas aulas aos alunos do 1º ano. A história reza assim:

Um dia, Keynes, já então um economista famoso e reputado, terá sido contratado por uma nova universidade. Atrás de si o economista trazia não só um curriculo académico de peso mas uma fama desagradável: teria por hábito dormir com as mulheres dos colegas o que, como se adivinha, não dava bom ambiente ao Departamento. Por isso, quando o contratou, o Reitor mandou chamá-lo e disse-lhe que era uma grande honra contar com ele no seio dos lentes daquela Escola mas, conhecendo o que se tinha passado nas academias anteriores, pedia a maior atenção e respeito pelas famílias dos colegas. Ao que Keynes terá respondido: "Está a referir-se ao facto de eu dormir com as mulheres dos colegas? Não se preocupe. Já dormi também com as mulheres destes colegas e elas são péssimas. Não vai haver problemas".

Agora pergunto-me: afinal com quem é que Keynes dormia? Seria a estória apenas para atrair a atenção dos caloiros para a teoria geral do emprego e da moeda?

15/02/2011


Uma questão de gosto



Na aprendizagem do que aqui seja o "belo", é preciso percorrer muitas estradas, galgar muitos caminhos e calejar muitas vezes a mão até assimilar padrões que nos são pura e simplesmente estranhos. O exercício é difícil mas fascinante.

Fascinante é também perceber que, em certos meios, o cúmulo de uma pretensa sofisticação é a reprodução mimética de um certo padrão interiorizado como sendo "europeu" e depois exacerbado para lá do que os próprios europeus poderiam conceber nos seus momentos mais arrojados. Aquilo que na Europa seria visto como gosto duvidoso por certos círculos, pode ser aqui apreciadíssimo justamente porque importa um padrão distinto e essa assimilação da alteridade, é um sinal de abertura do mundo.

Isto não é fácil para um "gaijin" (estrangeiro), sobretudo (ver foto em baixo) quando tem de estar sentado num sofá forrado a alcatifa durante duas horas...

14/02/2011


O PAVILHÃO PRATEADO



Embora não seja tão "impressionante" como o seu congénere dourado, o Pavilhão Prateado - Ginkaku-ji - é outro marco obrigatório em Quioto. O jardim em volta é imaculado: no recorte do arvoredo, na simplicidade dos jardins de pedras e no percurso do caminho que o visitante é convidado a percorrer (apesar da lama que Janeiro não consegue evitar...).

O Pavilhão Prateado remonta ao final do século XV e tem uma curiosa disputa de família na sua origem: foi mandado construir pelo neto do mandante do Pavilhão Dourado, como modo de afirmação de poder. Sem querer pôr em causa a supremacia do avô (um era "dourado", o outro seria só "prateado"), os tectos deste templo deveriam ter sido revestidos a prata (o que não chegou a acontecer). No entanto, ao contrário do Pavilhão Dourado (que se tornou um templo religioso, um "convento" se quisermos adoptar a terminologia europeia), o Pavilhão Prateado tornou-se um centro de artes, sendo, durante séculos, palco de representações teatrais e musicais, galerias que abriam portas a artistas e salas de acolhimento a poetas e filósofos. O Pavilhão Prateado poderá nunca ter conseguido ter a fama do Dourado mas foi, antes do conceito ser conceito, residência artística apoiada por mecenas locais.


13/02/2011


Domingo de versos - Issa Kobayashi



Neste mundo
por cima do inferno
contemplo as flores

Issa Kobayashi
(poeta japonês 1763 - 1827)

11/02/2011


Sir Henry James



Bom, é mais uma questão de ter de esperar – por uma coisa que virá ao meu encontro, que terei de olhar de frente, que surgirá de repente na minha vida; que possivelmente destruirá a consciência de tudo o mais ou virá mesmo aniquilar-me; mas, por outro lado, é possível que altere tudo, que colida com as raízes do meu mundo e me deixe à mercê das consequências, sejam elas quais forem.

Henry James
A Fera na Selva

(é isto mesmo, MJ, é isto mesmo...)


10/02/2011


Casamentos à japonesa



A grande moda dos casamentos no Japão é casar "à europeia": vestido de noiva tipo passerele de Paris, imitação de capela barroca (sic!), altar como se fosse um templo cristão e proto-padre vestido a rigor.

Mas felizmente ainda há quem não alinhe por essa bitola e não é raro ver, aos fins de semana, um casamento tradicional japonês nos templos espalhados pela cidade. São lindíssimos e fazem a felicidade dos que têm a sorte de lá estar nesse momento.




Só tenho uma curiosidade por satisfazer: será que também dizem "sim"? Que o mesmo é dizer "hai"?

09/02/2011


Hello Kitty style



Deve haver uma razão qualquer para o fascínio dos japoneses pela Hello Kitty. Há lojas temáticas com tudo: roupa, louça, adereços, livros, quadros, óculos, objectos de decoração. A imaginação é o limite. Tornou-se quase um símbolo nacional, o que se vê bem se se passear em Omotesando/ Harajuku ao domingo à tarde...



O que eu não esperava mesmo era ir para uma reunião e, baixando-me para apanhar a minha caneta que tinha caído, ver que a minha interlocutora europeia também tinha umas meias garridas onde luzia uma enorme Hello Kitty. Mas pensando bem, why not?

08/02/2011


Oh Gosh...



... so in case of emergency, what do I have to do exactly...?

07/02/2011


4 horas de Teatro Noh



Há uns meses, uma japonesa culta e viajada perguntou-me o que eu achava do teatro noh. Na altura respondi que ainda nunca tinha visto uma peça noh mas do que conhecia, ma parecia uma estética muito interessante, totalmente diversa do teatro ocidental e, por isso, desafiante mesmo se difícil para um europeu. Ela não esteve com meias medidas: "I just think it is very boring!".

Um destes dias fui ao noh - 4 horas de teatro. Como é de tradição, um ciclo de 3 peças, duas de noh (sério, pesado, estilizado, profundo) com uma peça kyogen pelo meio (uma rábula semi-revisteira, de humor e sátira social). À entrada, recebi uma folha com explicações em inglês que não eram muito reconfortantes: "The noh is very difficult to understand. It is better to see it as an artistic presentation of dance and music". Que é como quem diz: não se cansem muito e desfrutem como puderem.

A verdade é que um europeu não pode perceber o noh. Não pode apreciar uma estética para o qual não foi educado. Como não se espera que um taxista de Londres que nos leva para a New Tate disserte sobre Rothko ou que um vendedor de frutas em Berlim entreleia a erotica romana do Goethe, um ocidental - pelas mesmas razões - não pode "ler" o teatro noh. Pode até fazer várias leituras: a beleza do guarda-roupa, a originalidade do timbre musical, a particularidade do ritmo cénico. Os intelectualmente mais afoitos lembrar-se-ão das lições de Tanizaki sobre o confronto entre a luz e a sombra no Ocidente/ Oriente. Ou eventualmente de Eliade quando fala da abstração religiosa no xintoísmo. Mas isso é o máximo onde pudemos chegar: um gaijin será sempre um gaijin - alguém que vem de fora, um bárbaro do sul ou do norte, incapaz de perceber um mundo que não é seu por mais admiração que por ele possa nutrir.

06/02/2011


Domingo de versos, Adília Lopes



Mesmo
uma linha
recta
é o labirinto
porque
entre
cada dois pontos
está o infinito

Adília Lopes, in Caderno, & Etc, 2007

04/02/2011


Aprender a rezar na era da técnica



Grande Templo de Kamakura, Dezembro 2010

03/02/2011


Ir ao IKEA no Japão



Há uma genial crónica do Ricardo Araújo Pereira onde ele se interroga se o IKEA vende móveis baratos ou puzzles caros (ler aqui, que vale a pena). Partilho da angústia fedorenta e entrar no IKEA dá-me um nervoso miudinho: acho que aquilo só é simples para os outros, as instruções irritam-me com aqueles bonequinhos gordos e o cheiro da molhenga nos restaurantes enjoa-me. Mas reconheço que para quem, como eu, anda pelo mundo com a casa às costas, aquele infernozinho sueco dá algum jeito.

Assim foi: depois de ter galgado lojas e armazéns; subido e descido intermináveis 'kus' (calma, calma: ku=freguesia em palato local), eis que o IKEA me resolveu o já velhinho problema da montagem da cortina do duche. Acabaram-se as inundações na casa de banho. E, para quem se lembra de post anterior, aqui nem foi preciso recorrer à mímica...


02/02/2011


Portugal a 10 000 quilómetros visto pela TVI



Já não bastava ver às 22h o jornal televisivo das 13h que é sempre fraquinho. Ainda por cima, por uma razão informática que me escapa, não consigo ver online outro canal senão a TVI... Posso, portanto, não estar informado sobre as reacções do mercado à venda de bonds e o rating da República mas sei tudo sobre o crime luso de Nova Iorque ou a velhinha roubada em Vila Nova de AiJesus.

Vantagem: janto com música e sem televisão porque a essa hora está o Manuel Luís Goucha a cofiar o bigode em directo. A diáspora não merece isto.

01/02/2011


QUIOTO: Gion vs. Pontocho, ou a importância das geixas



- Terá de esperar pelo menos três anos... Além disso, Chi-Chan vai para Pontocho no ano que vem.
- Para Pontocho? Mas porquê?
- Quer ser maiko. Está doida por isso.
- Se quer ser aluna de gueixa, não será melhor Gion?
E no seu íntimo olhava-a convencido de que aquela rapariga, fosse para Gion ou para qualquer outro lado, se tornaria numa maiko de grande classe.

Quioto, de Yasunary Kawabata (edição portuguesa na D. Quioxote)

Comprei há dias um tijolão de quase um milhar de páginas que explica tudo o que alguém pode querer saber sobre o fascinante, misterioso e requintadíssimo mundo das gueixas. Mas na contra-capa de uma edição americana faz-se a advertência: só espíritos apressados e ignorantes (leia-se europeus, numa matriz conceptual que agora não vale a pena desenvolver) pensam que gueixas são prostitutas finas. Nada disso: gueixas são, na tradição japonesa, senhoras de educação esmeradíssima que fazem companhia aos homens, conversam durante um jantar e cantam ou representam as artes tradicionais.

Difícil para um ocidental perceber isso? Será. Mas é sempre bom lembrar, como Shakespeare dizia a Horácio, que há mais coisas no céu e na terra do que a nossa vã filosofia pode imaginar. Japão incluído.

(foto de uma gueixa em Pontocho/ Quioto)