Tratado em que se contêm muito sucintamente e abreviadamente algumas contradições e diferenças de costumes entre a gente da Europa e desta província do Japão
Os quase 5 séculos de presença portuguesa no Japão são, em primeiro lugar, tributários dos jesuítas. Estes 500 anos são marcados por homens notabilíssimos que, sendo missionários, aqui aportaram trazendo a cruz numa mão e a fineza de espírito e o cosmopolitismo na outra. Esta semana, li um livro de um deles, Luís Fróis que, em 1585 conclui o Tratado em que se contêm muito sucintamente e abreviadamente algumas contradições e diferenças de costumes entre a gente da Europa e desta província do Japão.
Fróis nasceu em Lisboa em 1532 e chegou ao Japão em 1562, onde viveu até 1597, ano em que morreu em Nagasáqui. O livro, notável, que assinou durante a sua estada, foi reeditado em 2001 pelo Instituto Português do Oriente. Não pode ser lido, nos dias de hoje, como qualquer esboço de tipo antropológico mas é um documento precioso para compreendermos os homens de quinhentos: os de Portugal e os desta província do Japão, o modo como uns e outros se olhavam, as desconfianças mútuas e as ligações que se estabeleciam, quer as baseadas na compreensão, quer as da incompreensão.
O livro está dividido em 14 capítulos temáticos: os homens, as mulheres, as crianças, os religiosos, os templos, a comida, as armas, os cavalos, as doenças, a escrita, as casas, os barcos, os autos e os "extras". Ao longo de centenas de pontos, Fróis compara com detalhe os modos de europeus e "japões".
Alguns exemplos:
"Entre nós a gente lava o corpo em suas casas muito escondidos; em Japão homens e mulheres e bonzos em banhos públicos ou à noite às suas portas.
(...)
Em Europa ordinariamente as mulheres fazem de comer; em Japão o fazem os homens, e os fidalgos têm por primor ir fazê-lo à cozinha.
(...)
Onde as derradeiras folhas de nossos livros de acabam, ali começam os deles".
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