07/02/2011


4 horas de Teatro Noh



Há uns meses, uma japonesa culta e viajada perguntou-me o que eu achava do teatro noh. Na altura respondi que ainda nunca tinha visto uma peça noh mas do que conhecia, ma parecia uma estética muito interessante, totalmente diversa do teatro ocidental e, por isso, desafiante mesmo se difícil para um europeu. Ela não esteve com meias medidas: "I just think it is very boring!".

Um destes dias fui ao noh - 4 horas de teatro. Como é de tradição, um ciclo de 3 peças, duas de noh (sério, pesado, estilizado, profundo) com uma peça kyogen pelo meio (uma rábula semi-revisteira, de humor e sátira social). À entrada, recebi uma folha com explicações em inglês que não eram muito reconfortantes: "The noh is very difficult to understand. It is better to see it as an artistic presentation of dance and music". Que é como quem diz: não se cansem muito e desfrutem como puderem.

A verdade é que um europeu não pode perceber o noh. Não pode apreciar uma estética para o qual não foi educado. Como não se espera que um taxista de Londres que nos leva para a New Tate disserte sobre Rothko ou que um vendedor de frutas em Berlim entreleia a erotica romana do Goethe, um ocidental - pelas mesmas razões - não pode "ler" o teatro noh. Pode até fazer várias leituras: a beleza do guarda-roupa, a originalidade do timbre musical, a particularidade do ritmo cénico. Os intelectualmente mais afoitos lembrar-se-ão das lições de Tanizaki sobre o confronto entre a luz e a sombra no Ocidente/ Oriente. Ou eventualmente de Eliade quando fala da abstração religiosa no xintoísmo. Mas isso é o máximo onde pudemos chegar: um gaijin será sempre um gaijin - alguém que vem de fora, um bárbaro do sul ou do norte, incapaz de perceber um mundo que não é seu por mais admiração que por ele possa nutrir.

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