31/12/2010

See you - There we go again

Os melhores livros de 2010 (lidos por mim, não necessariamente editados este ano):

- Breaviário do Mediterrâneo, de Predray Matvejevitch;

- Ernestina, Rentes de Carvalho;

- Netherland, de Joseph O'Neill;

- A máquina de fazer espanhóis, de valter hugo mãe;

- Contes d'amour des Samourais, de Saikadou Ebano;

- Hannah Arendt e Martin Heidegger, de E. Ettingen;

- Caderno das Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo;

- Salazar, de Filipe Ribeiro de Menezes;

- Clarice Lispector, Uma Vida, de Benjamin Moser;

- Um Arco Singular, Livro de Horas II, de Maria Gabriela Llansol;

- Viagem à Índia, Gonçalo M. Tavares (confesso: ainda não li mas já me chegou. Arrisco, com segurança, pô-lo na lista);

e, já agora, desculpar-me-ão mas este blog não tem de ser imparcial,

- Viagens Noutras Terras - Almeida Garrett, Diplomata em Bruxelas (1834-1836), de Duarte Bué Alves.

Em suma: ano fraquinho no domínio ficcional em Portugal com a excepção de Tavares e hugo mãe; melhor no ensaio. Não é por causa do meu livro mas Portugal parece estar a acordar finalmente para a biografia/ diários/ memórias (Salazar, Clarice, Egas Moniz, Llansol, Sontag e, claro, Garrett...). Algumas desilusões dos escritores de "um livro por ano" (cá: Lobo Antunes; lá fora: Martin Amis). Um escritor pode nascer depois dos 80 (Rentes). Finalmente, traduções com 30 anos de atraso (Llosa, Bellow). Over-dose (justa) de Tolstoi. Estado comatoso da literatura francófona e pujante da anglófona. Descoberta pessoal do ano: Siri Hustvedt.

30/12/2010


Uma saladinha de frutas para o réveillon...




Não sei o que faça para o jantar da passagem de ano - estou na dúvida se opto por uma caixa de 6 laranjas a 130 euros ou se 10 morangos brancos (brancos?!?) por 155 euros? Na dúvida, se calhar compro as duas caixas e faço uma saladinha de frutas... Alguém quer dar uma sugestão?

29/12/2010

That's all folks


28/12/2010

O grande mistério da unheca


O que me intriga nesta moda de as senhoras arranjarem as unhas para lá do expectável, não é a questão estética, nem o tempo que devem passar na manicure: o que me intriga mesmo é como é que as unhas assim são compatíveis como uma vida em paralelo que implique conduzir um carro, ter uma vida sexual ou teclar num computador...

27/12/2010

África, a poesia e a Paris Hilton


Interlocutor africano queria demonstrar-me há dias que determinada figura política do seu país era "um grande poeta". Ouvi com desvelada atenção e contrapus que se tratava de um personagem de inegável importância política e histórica mas que, como poeta era - vá lá - menos proeminente. Argumento para cá, argumento para lá, o meu interlocutor acabou por dizer que se tratava de alguém "um bocadinho poético". Não insisti mas dei por mim a pensar que é o mesmo que dizer que Paris Hilton é "um bocadinho virgem".

26/12/2010

Domingo de versos - Miguel Torga



E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.

— Consoamos aqui os três — disse, com a pureza e a ironia de um patriarca. — A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.

Miguel Torga, Um conto de Natal

25/12/2010

Ryuichi Sakamoto - Merry Christmas Mr. Lawrence

24/12/2010

Christmas in Tokyo



Santa has gone mad, took the Harley and is running away - seen in Roppongi, Tokyo, Dec. 23rd, 2010.

Safe trip Santa. And Merry Christmas to you all.

23/12/2010

CLARICE LISPECTOR, a mulher do Embaixador



Três dias para devorar a monumental biografia de Clarice Lispector de Benjamim Moser, agora editada em Portugal, e que mão amiga me fez chegar - pessoalmente - a Tóquio. A biografia está muitíssimo bem feita, cruzando a fronteira com a análise literária, embora, uma ou outra vez, se perca um pouco em rodriguinhos históricos que, a meu ver, são desnecessários (para quê a descrição do suicídio de Getúlio Vargas?).

Uma historieta divertida: quando Clarice se separa do marido (e é ela que o faz), Maury era nº 2 da Embaixada do Brasil em Washington seguindo depois para Embaixador em Varsóvia. Pouco tempo depois, já na Polónia, Maury casa-se de novo, desta vez com Isabel Leitão da Cunha que era, nem mais nem menos menos, do que a filha do Ministro dos Exteriores brasileiro. Isabel era muito mais nova e Clarice fica furiosa, proibindo os amigos de receber o novo casal. Quando Clarice telefonava para Varsóvia ou depois para o Rio, quando os filhos estavam com o pai e era Isabel quem atendia o telefone, Clarice fingia que não percebia quem era e dizia: "Bom dia, daqui fala a mãe dos filhos do Senhor Embaixador".

O génio literário não abafa a mulher mas também não é menos verdade que há uma ironia corrosiva na frase que tem muito de tradição romanesca.

22/12/2010

A LITURGIA MULTILATERAL



Padres por esse mundo fora enceram os soalhos dos templos, puxam o brilho à talha dourada e preparam-se para queimar o incenso em vésperas da noite em que todos assolam à igreja, mesmo aqueles que passam ao largo o ano inteiro. Eu já tive a minha dose de liturgia adventícia, com 48 horas fechado numa sala de reuniões a discutir o futuro de não importa agora o quê. Já tinha saudades: noite dentro a fazer drafting, pausas para consultas em cada duas horas, delegados a dormir nos corredores, doses reforçadas de café, computadores que projectam textos enormes até inexplicavelmente deixarem de funcionar, intérpretes com horários incompatíveis com a música que aqui se baila, secretariado a fazer milhões de fotocópias de drafts que acabarão no lixo, desfolhar de calhamaços à procura de agreed language, dramas, ameaças e crescendo de tensão. Até tudo acabar bem, numa sessão plenária cuja hora nunca tem nada a ver com o inicialmente previsto. Há todo um rito a cumprir para subir a este quase-Golgota. Esta minha vida começou no multilateral e parece mesmo que não há amor como o primeiro.

21/12/2010

Macau III - Uma cidade "digna"?


Diziam-me há dias que Macau era uma cidade "digna". Moralismos à parte, a coisa ficou a remoer até que, por pura coincidência, dei com uma frase de Maria Archer, uma escritora de que nada sei a não ser que nasceu no mesmo dia que eu e que viveu em Luanda em inícios do século XX, que desconstruiu a dignidade que me tinham tentado vender: "o mal dos portugueses é a dignidade".






Este tom proclamatório de épocas passadas chega mesmo a casar bem com o ar do tempo que hoje sopra em Macau.





Em tempo II: o meu amigo estimadíssimo continua descontente. Ontem à noite protestou de novo. Que não, que o tom está ao lado, que lhe falta chama, que Macau merecia mais da minha pobrezinha prosa, e que não está à altura duma coisa que escrevi há uns anos que era uma espécie de declaração de amor pela Grécia. Mas também, pode-se comparar? Nem Pessanha é Homero, nem as Portas do Cerco o Oráculo de Delfos, nem a Taipa é o Mediterrâneo. Cada um é para o que nasce. Mas este meu amigo não me perdoa. Até acho que já sei o que lhe aconteceu: como a lenda da terra diz, deve ter bebido a água da fonte do Lilau. E quem bebe do Lilau, não mais sai de Macau.

PS: Há um mês escrevi aqui que Gonçalo M. Tavares era o nosso novo potencial nobel da literatura. Hoje, o Público diz isso mesmo na 1ª página. Leiam-no, façam-se esse favor natalício.

20/12/2010


Macau II - O mundo que os portugueses criaram
(ou talvez César não tivesse razão)



Se o jogo torna a paisagem de Macau decadente e triste - mesmo no meio dos néons dos casinos - a verdade é que aquilo é um milagre. Se me envergonho, logo me espanto, para usar usar a dicotomia de Sá de Miranda. No mais simples e comezinho: não pode o visitante deixar de se perder de razões quando, ao entrar numa loja vê à venda a revista CARAS... (e a Agustina, e o Lobo Antunes, e Cardoso Pires, e por aí fora). No meio da Ásia, para lá de terras distantes e marés adversas, Macau é ainda, contra o expectável, uma cidade de matriz portuguesa: nas igrejas barrocas, na calçada, na Santa Casa da Misericórdia, na arquitectura civil e militar, nos pastéis de nata, nos restaurantes, no recorte das praças, na casario que lhes é sobranceiro, nas placas das ruas, na "Pharmácia Popular" que "avia as receitas", nos azulejos de Nossa Senhora de Fátima. É uma aldeola ao pé de HK? Será. Mas o que é Lisboa ao lado de Londres?





Macau foi onde o sol do império se pôs. Com o Brasil ao largo e com a África lusófona a caminhar para a idade adulta, cedo ou tarde seria chegado o momento de devolver aquele pedaço de terra a quem ela por direito pertence (e só não foi mais cedo, importa lembrar a história recente, porque os chineses não a quiseram logo a seguir ao 25 de Abril). Foi ali que se fechou um ciclo, com a bandeira agarrada ao peito de Rocha Vieira, os portugueses a lacrimejar, a porta do cerco a ser trancada e a chave a ser posta num envelope endereçado a Pequim. Fez-se o que tinha de ser feito.





O que Macau tem ainda de tão especial é que a portugalidade lhe está impregnada. Se falhámos redondamente (e vergonhosamente, e incompreensivelmente, e estupidamente) naquilo que deveria ter sido um objectivo pivotal - deixar a língua à séria - noutros, como no direito, estivémos à altura (é só entrar numa livraria para ver as lições de direito processual de Lebre de Freitas ou de direito civil de Menezes Cordeiro). E nos sinos que do alto dos campanários dobram, ouve-se dizer uma prece, sussurada ora em português manhoso, ora em língua local. Aqui, como em tantas outras ocasiões da história, preste-se a homenagem à igreja que soube tratar dos haveres do Paço bem mais diligentemente que os senhores civis souberam lavrar as matérias seculares.



Não adianta lamentar o que não tem emenda: os velhotes a falar português enchem um autocarro e, numa questão de tempo, o talhão do cemitério local, levando com eles últimos ecos de Camões ou de Camilo Pessanha (Pessanha, o único grande poeta que Macau 'produziu' e acolheu - e que o ópio ceifou - merecia melhor destaque e melhor sorte que aquela ruela que a toponímia lhe reservou). Volvidos os 50 anos da transição, pode Pequim acabar com as petições iniciais, réplicas e tréplicas que se ensinam na faculdade de direito na Taipa mas não acabará, salvo se for acometida por algum improvável delírio talibânico, com a majestade das ruínas de S. Paulo cuja imponente fachada se encarregará de recordar ao mundo que ali lançou amarras gente de azimutes longínquos que trazia consigo a fama de não se governar nem se deixar governar. Afinal, se calhar, nem foi tanto assim.





Em tempo: amigo estimadíssimo e com costela macaense protestou-me ontem à noite que o texto anterior (sobre os casinos) dava uma má ideia de Macau, ainda por cima sem sentido porque eu já lhe tinha dito que tinha gostado muito do "território". Espero que a prosa de hoje redima tais entendimentos. Para que fique claro: Macau surpreendeu-me pela positiva para lá do que eu estava à espera. Gostei muitíssimo e, como muito acertadamente disse esse mesmo amigo, é um sítio onde apetece ficar para escrever um livro. Nem mais.

19/12/2010

DOMINGO DE VERSOS - Liu Xiaobao



over the bookshelf, the handwritten label is covered in dust
on the carpet the pattern inhales the dust
when you are writing a letter to me
and love that the nib's tipped with dust
my eyes are stabbed with pain

Liu Xiaobao

(poema inédito de Liu Xiaobo, You wait for me with dust, publicado na Asia Literary Review, Winter 2010, comprada em Hong Kong. Hong Kong, isso mesmo)

17/12/2010


Macau I - uma disneylância de adultos

O velho Casino Lisboa

Comecemos por aqui: o que de pior Macau tem para mostrar. Um território de 26 km2 tem 30 casinos, 5000 mesas de jogo e algumas centenas - talvez milhares - de prostitutas. No fundo a lógica é a mesma. As mulheres deitam-se em lençóis de seda branca a troca de notas; as fichas lançam-se a troco do mesmo em panos verdes. Macau é já hoje o maior centro de jogos do mundo, com mais dinheiro gasto por dia que Las Vegas. São milhares de pessoas por dia, sobretudo chineses, que passeiam por centros comerciais luxuosos, mais luxuosos que Tóquio (sim, é possível, mesmo se o bom gosto é discutível) rumando a salas enormes com mesas a perder de vista onde uns meninos devidamente treinados apostam o prestígio da "casa" contra o vício dos perdidos.

O novo Casino Grand Lisboa

Não se culpe os chineses do pós - 1999. É certo que eles exponenciaram ao limite a lógica do casino, aproveitando, de resto, o que é uma idiossincrasia chinesa de apetência pelo jogo. Mas tudo vem de trás, do remoto ano de 1847 quando o Governador Ferreira do Amaral, a perder o dinamismo do território para a já então pujante vizinha HK, lançou mão desta ideia de legalizar o que eram umas casas semi-clandestinas de jogatana. Hoje, em Macau, respira-se jogo, em mamarrachos arquitectónicos cuja implosão é a única saída viável.

O Casino Wynn, o menos mau...

Confesso que dá uma certa pena que a única maneira que se encontrou para um local onde estivémos 500 anos foi ter aberto - leia-se escancarado - portas e janelas a uma actividade que explora tão pouco nobre fraqueza humana.

Pronto: está feita a nota de desagrado. Seguem-se os apontamentos sobre o que gostei - e muito, e convictamente, e exageradamente - na Cidade do Nome de Deus, Macau.

Veneza? Não. O inenarrável Casino Veneziano...


...onde Veneza se reproduz em escala real ao ponto de ser possível passear de gôndola!



Passa pela cabeça do maior dos pacifistas que este canhãozinho carregado resolveria a coisa do ponto de vista da paisagem...

16/12/2010

AFTERNOON TEA, PENINSULA HOTEL
(ou fotografia da ideia de patronising)



Há mais de 80 anos que no lobby do Hotel Peninsula, em Hong Kong, se serve o chá da tarde. Passaram por ali governadores e generais, aristocratas falidos e plebeus enriquecidos, britânicos e chineses, empresários, espiões e contrabandistas, arrearam-se bandeiras e hastearam-se outras, dispararam-se tiros e assinaram-se tratados de paz, fizeram-se juras de amor e cometeram-se infidelidades, trocaram-se segredos e sussurraram-se palavras para telegrafia diplomática (pré-wikileaks, mas quem sabe...?), fizeram-se negócios e negociatas, contemplou-se o mar e a montanha, disseram-se preces e proferiram-se ameaças – a tudo o Peninsula assistiu e a todos serviu o English breakfat tea, finger sandwiches e scones quentes com compota e cream. Numa cidade que perdeu referências – insisto neste ponto – o chá no Peninsula é o que resta dum tempo em que os ingleses – patronising, como alguém me disse estes dias com imenso rigor e síntese sobre séculos de vida do império governado em Bombaim ou Perth como a mesma elasticidade que reinava em Westminster – desfrutavam de certa concepção de qualidade de vida que, em forma de redoma, criavam onde quer que pousassem arraiais. (Esta é, porventura, a grande diferença com a colonização portuguesa e vê-se, à vista desarmada, quando, num espaço de uma hora de passa de HK para Macau). O que impressiona no chá da tarde no Peninsula é essa imortalização do tempo, uma espécie de recusa quase clínica da contemporaneidade, como se fosse possível viver sem sair das páginas do Great Gatsby ou do Tender is the Night.


15/12/2010


HONG KONG II - PASSAGE TO KOWLOON, the star-ferries



Há hábitos que ficam da sociedade vitoriana: nos ferries que ligam Hong Kong a Kowloon, os barcos têm dois preços – no upper deck, ligeiramente mais confortáveis, com melhor vista e abrigados do vento os bilhetes custam 3 dólares. No lower deck, onde as massas se instalam, o preço são 2 dólares (note-se que 1 dólar de HK são 0.1 cêntimos de euro…). A viagem, de cerca de cinco minutos, é das experiências mais inesquecíveis da vida. A vista é deslumbrante, e os passageiros sentem-se confortavelmente esmagados pela imensidão de uma construção que parece não conhecer ocaso. Estamos ali à mercê num star-ferry (os barcos depois vão tendo variações: morning star; evening star; golden star, etc) rodeados da radicalidade urbana de uma das maiores cidades do mundo.


E, no entanto, o barco em que navegamos parece frágil, embora não desconfortável. Não chega a ser incómodo porque a duração da viagem não lhe permite mas isso tem a vantagem de convidar o viajante a levantar-se e ficar encostado à balustrada, enquanto se afasta de HK. Assim, mais depressa se desembarca à chegada do pier de Kaloon. Outrora, era ali que se apanhava o comboio que, durante semanas, atravessava a China, a Rússia e a Mongólia para rumar a Londres. Era ali que chegavam as notícias e onde se primeiro se vendia o South China Morning Post (de todos os tempos – do tempo da defesa do império da jarreteira e do tempo do império do meio. Ainda hoje um jornal feito com inteligência [magnífica edição de domingo], mesmo com certas subtilezas editoriais). Era ali, finalmente, que as senhoras iam ao Ladies’ Market e, ao final da tarde, se sentavam no Peninsula para um chá preto muito forte, travado com uma lágrima de leite e um scone com passas e compota. As mesmas senhoras que viajavam sempre no upper-deck, naturalmente.









14/12/2010

HONG KONG CHEIRA A ÓPIO


Hong Kong ainda cheira a ópio, a única droga que deu uma guerra nos tempos em que se guerreava e se sabia porquê. Ontem eram os velhos colonos em festas onde se transpirava por causa da humidade e se bebia gin; hoje são os yuppies que snifam outras drogas mais sintéticas em casas de banho cheias de espelhos, desenhadas por arquitectos premiados. Tirando os ferries no canal e o chá no Peninsula (de que falarei no próximo post), pouco resta da presença inglesa. Todos falam inglês mas também no Cuíto Canavale e em Carrazeda de Ansiães, que Londres nunca colonizou. De resto, tornou-se uma imensa praça de compra e venda: ontem ópio e armas, hoje corpos e bonds (ao menos o ópio tinha uma certa elegância). Não quer dizer que não seja um sítio deslumbrante – é daqueles lugares no mundo que nos esmagam, que nos fazem suster a respiração e esbugalhar o olhar (veja-se a vista do Peak primeira fotografia, ou a vista de HK à noite, em baixo). Mas Hong Kong, na ânsia de fazer dinheiro, apagou as referências do passado, como os parvenus da província que escondem as fotografias da família. É por isso que Macau (lá chegarei) é muito mais interessante. Em HK só há presente porque o futuro esmagou o passado. Sobram duas ou três coisas que servem mais para compôr as fotografias do que para mobilar o quotidiano.



Mas não se pense que não gostei de HK: contra a fama arregimentada, acho é que perde para a vizinha Macau. Mas isso não significa que não ofereça o que há de melhor no mundo, entre as lojas do Shangai Tang que ressuscitam a China dos anos 30 (dançar ao som do string quartet enquanto se espera que seja servido o jantar), o tram para subir a pique ao Peak (carros velhinhos onde os bancos de madeira estão modelados pelos corpos) , as velharias de Hollywood Road (albuns de família que não couberam nos baús), os star-ferries que atravessam continuamente o canal (o National Geographic considerou esta viagem uma das 50 obrigatórias na vida) e, claro, o sempre e imortal chá no lobby do Hotel Pensinsula (ritual ininterrompiado há mais de 80 anos). Matéria que se segue.










13/12/2010

A MOSTARDA CONTRA-ATACA - a bisnaga como arma



Num aeroporto asiático onde passei nos últimos dias, havia um cartaz, junto ao controlo de segurança, onde se avisava que, como já é hábito, não se podia embarcar com líquidos, pasta de dentes, champô, etc. Enfim, nada de novo. Mas o mais surpreendente é que este cartaz dizia também que não se podia levar ketchup e mostarda (sic). O que me leva a duas perguntas: (i) por que razão é que alguém vai para um avião com ketchup e mostarda na bagagem de mão? (ii) há registos de perigosidade com esses produtos? já alguém tentou desviar um boeing com uma bisnaga de mostarda?!?

Mundo insane este...

(eu sei que estão à espera de notas e fotografias de Macau e Hong Kong - segue ASAP)

12/12/2010

Domingo de versos





Verso Vão

Onda de sol, verso de ouro,
perífrase vã. Extasiar-me,
antes, por esta fusão,
mistura de brilhos. Ou, ainda
mais íntima, a consciência
extensa como o céu, o corpo de tudo,
semelhança absoluta. Respirar
na quebra da onda. Na água,
uma braçada lenta
até ao limite de mim.

Fiama Hasse Pais Brandão, in Três Rostos - Ecos

11/12/2010

Quando tudo falha



Fotografia de Lim Sok Lin