Diziam-me há dias que Macau era uma cidade "digna". Moralismos à parte, a coisa ficou a remoer até que, por pura coincidência, dei com uma frase de Maria Archer, uma escritora de que nada sei a não ser que nasceu no mesmo dia que eu e que viveu em Luanda em inícios do século XX, que desconstruiu a dignidade que me tinham tentado vender: "o mal dos portugueses é a dignidade".
Este tom proclamatório de épocas passadas chega mesmo a casar bem com o ar do tempo que hoje sopra em Macau.
Em tempo II: o meu amigo estimadíssimo continua descontente. Ontem à noite protestou de novo. Que não, que o tom está ao lado, que lhe falta chama, que Macau merecia mais da minha pobrezinha prosa, e que não está à altura duma coisa que escrevi há uns anos que era uma espécie de declaração de amor pela Grécia. Mas também, pode-se comparar? Nem Pessanha é Homero, nem as Portas do Cerco o Oráculo de Delfos, nem a Taipa é o Mediterrâneo. Cada um é para o que nasce. Mas este meu amigo não me perdoa. Até acho que já sei o que lhe aconteceu: como a lenda da terra diz, deve ter bebido a água da fonte do Lilau. E quem bebe do Lilau, não mais sai de Macau.
PS: Há um mês escrevi aqui que Gonçalo M. Tavares era o nosso novo potencial nobel da literatura. Hoje, o Público diz isso mesmo na 1ª página. Leiam-no, façam-se esse favor natalício.
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