15/12/2010


HONG KONG II - PASSAGE TO KOWLOON, the star-ferries



Há hábitos que ficam da sociedade vitoriana: nos ferries que ligam Hong Kong a Kowloon, os barcos têm dois preços – no upper deck, ligeiramente mais confortáveis, com melhor vista e abrigados do vento os bilhetes custam 3 dólares. No lower deck, onde as massas se instalam, o preço são 2 dólares (note-se que 1 dólar de HK são 0.1 cêntimos de euro…). A viagem, de cerca de cinco minutos, é das experiências mais inesquecíveis da vida. A vista é deslumbrante, e os passageiros sentem-se confortavelmente esmagados pela imensidão de uma construção que parece não conhecer ocaso. Estamos ali à mercê num star-ferry (os barcos depois vão tendo variações: morning star; evening star; golden star, etc) rodeados da radicalidade urbana de uma das maiores cidades do mundo.


E, no entanto, o barco em que navegamos parece frágil, embora não desconfortável. Não chega a ser incómodo porque a duração da viagem não lhe permite mas isso tem a vantagem de convidar o viajante a levantar-se e ficar encostado à balustrada, enquanto se afasta de HK. Assim, mais depressa se desembarca à chegada do pier de Kaloon. Outrora, era ali que se apanhava o comboio que, durante semanas, atravessava a China, a Rússia e a Mongólia para rumar a Londres. Era ali que chegavam as notícias e onde se primeiro se vendia o South China Morning Post (de todos os tempos – do tempo da defesa do império da jarreteira e do tempo do império do meio. Ainda hoje um jornal feito com inteligência [magnífica edição de domingo], mesmo com certas subtilezas editoriais). Era ali, finalmente, que as senhoras iam ao Ladies’ Market e, ao final da tarde, se sentavam no Peninsula para um chá preto muito forte, travado com uma lágrima de leite e um scone com passas e compota. As mesmas senhoras que viajavam sempre no upper-deck, naturalmente.









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