CLARICE LISPECTOR, a mulher do Embaixador
Três dias para devorar a monumental biografia de Clarice Lispector de Benjamim Moser, agora editada em Portugal, e que mão amiga me fez chegar - pessoalmente - a Tóquio. A biografia está muitíssimo bem feita, cruzando a fronteira com a análise literária, embora, uma ou outra vez, se perca um pouco em rodriguinhos históricos que, a meu ver, são desnecessários (para quê a descrição do suicídio de Getúlio Vargas?).
Uma historieta divertida: quando Clarice se separa do marido (e é ela que o faz), Maury era nº 2 da Embaixada do Brasil em Washington seguindo depois para Embaixador em Varsóvia. Pouco tempo depois, já na Polónia, Maury casa-se de novo, desta vez com Isabel Leitão da Cunha que era, nem mais nem menos menos, do que a filha do Ministro dos Exteriores brasileiro. Isabel era muito mais nova e Clarice fica furiosa, proibindo os amigos de receber o novo casal. Quando Clarice telefonava para Varsóvia ou depois para o Rio, quando os filhos estavam com o pai e era Isabel quem atendia o telefone, Clarice fingia que não percebia quem era e dizia: "Bom dia, daqui fala a mãe dos filhos do Senhor Embaixador".
O génio literário não abafa a mulher mas também não é menos verdade que há uma ironia corrosiva na frase que tem muito de tradição romanesca.
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