14/12/2010

HONG KONG CHEIRA A ÓPIO


Hong Kong ainda cheira a ópio, a única droga que deu uma guerra nos tempos em que se guerreava e se sabia porquê. Ontem eram os velhos colonos em festas onde se transpirava por causa da humidade e se bebia gin; hoje são os yuppies que snifam outras drogas mais sintéticas em casas de banho cheias de espelhos, desenhadas por arquitectos premiados. Tirando os ferries no canal e o chá no Peninsula (de que falarei no próximo post), pouco resta da presença inglesa. Todos falam inglês mas também no Cuíto Canavale e em Carrazeda de Ansiães, que Londres nunca colonizou. De resto, tornou-se uma imensa praça de compra e venda: ontem ópio e armas, hoje corpos e bonds (ao menos o ópio tinha uma certa elegância). Não quer dizer que não seja um sítio deslumbrante – é daqueles lugares no mundo que nos esmagam, que nos fazem suster a respiração e esbugalhar o olhar (veja-se a vista do Peak primeira fotografia, ou a vista de HK à noite, em baixo). Mas Hong Kong, na ânsia de fazer dinheiro, apagou as referências do passado, como os parvenus da província que escondem as fotografias da família. É por isso que Macau (lá chegarei) é muito mais interessante. Em HK só há presente porque o futuro esmagou o passado. Sobram duas ou três coisas que servem mais para compôr as fotografias do que para mobilar o quotidiano.



Mas não se pense que não gostei de HK: contra a fama arregimentada, acho é que perde para a vizinha Macau. Mas isso não significa que não ofereça o que há de melhor no mundo, entre as lojas do Shangai Tang que ressuscitam a China dos anos 30 (dançar ao som do string quartet enquanto se espera que seja servido o jantar), o tram para subir a pique ao Peak (carros velhinhos onde os bancos de madeira estão modelados pelos corpos) , as velharias de Hollywood Road (albuns de família que não couberam nos baús), os star-ferries que atravessam continuamente o canal (o National Geographic considerou esta viagem uma das 50 obrigatórias na vida) e, claro, o sempre e imortal chá no lobby do Hotel Pensinsula (ritual ininterrompiado há mais de 80 anos). Matéria que se segue.










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