23/03/2011

Um sismógrafo dentro do peito



O meu colega sérvio foi o primeiro a confessar: I am always feeling earthquakes. Depois dele, todos admitiram o mesmo. Fui ver o que se diz na literatura especializada e parece que esta reacção é vulgar a quem passa pela experiência dum grande terramoto. Por um lado, desenvolvemos uma hipersensibilidade e, por isso, detectamos as réplicas como se tivéssemos um sismógrafo dentro do peito. Por outro lado, há um factor psicológico que faz com que estejamos a ver terramotos onde eles não existem. Era justamente a este segundo caso que se referia o meu colega sérvio perante o olhar concordante de uma plateia que não ousara verbalizar o mesmo. Dar uma ordem de impressão de um documento faz tremer a mesa, logo, terramoto. Passa um autocarro, o chão treme, logo, terramoto. O vento abana as árvores, logo, terramoto. Estamos todos aqui a fazer um curso acelerado de sismografia e, na impossibilidade de ter aparelhos sofisticados em casa, todos recorremos ao mesmo artefacto: um copo com água em cima da mesa para o qual se olha. Se a água começa a mexer, é mau sinal. Mas também é verdade que esta hipersensibilidade vai de mãos dadas com uma resistência a que todos nos habituámos já. Como dizia um outro colega, “por menos de um grau 4 já nem me levanto da cadeira”.

3 comentários:

  1. Força, Duarte. Acompanho os seus relatos no reader e lembrei-me logo de si ao saber das notícias. Engraçado como o Japão, que não conheço, de repente me está tão perto. Um abraço.

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  2. obrigado, abraço amigo, duarte

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  3. E isso não vai passar nunca, essa sensação. Eu ainda hoje a tenho desde um sismo no final dos anos 60 em Portugal. Creio que foi de 6 e qualquer coisa... pequeno quando comparado, mas suficiente para deixar a memória. Sílvia

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