22/03/2011

SISMO NO JAPÃO - Percepções



Aquilo que se viveu em Tóquio no dia 11 de Março às 14h46 é uma experiência que não desejo a ninguém. E não posso imaginar o que terá sido estar em cidades como Sendai ou Fukushima onde o sismo se sentiu de forma ainda mais forte e onde um tsunami (mais do que o sismo) semeou a morte.

Quem aqui vive sabe que à distância, na Europa, também as pessoas viveram coladas à TV e à net seguindo uma dor distante que se fazia própria e que a distância acentuada cavou em angústia. Isso percebe-se bem. O que se percebe menos é a onda de histeria, sensacionalismo, exagero e falta de rigor que perpassou na comunicação social europeia (já para não falar da irresponsabilidade de dirigentes políticos a falar de “apocalipse”). Vi directos na TV portuguesa onde se falava insistentemente de Chernobyl (a comparação não tem nada mas mesmo nada a ver do ponto de vista técnico) e se elencavam as ameaças a que Tóquio está sujeito, referindo o Monte Fuji (o Monte Fuji???). Li bloggers encartados a dizer que em Tóquio foram encerradas 200 linhas de metro (Tóquio tem 15 linhas de metro e, tirando nas horas imediatamente a seguir ao sismo, estiveram sempre a funcionar) e que Tóquio é uma cidade-fantasma (há milhões de pessoas a passear e às compras).

Sei de vários portugueses aqui residentes que falaram para as TV’s e jornais e que transmitiram justamente uma nota contrária: sem negar a gravidade da situação, sublinharam (e muito bem) o regresso progressivo a uma certa tranquilidade, aos ritmos da vida quotidiana que – sem dúvida – está afectada mas que se impõe com o passar das horas.

Mas sei também de um caso de uma portuguesa que, contactada por um jornalista não-português (sublinho: não português), explicou que poderia dar o seu testemunho relativamente à serenidade com que tudo está a ser vivido e ao facto de Tóquio praticamente não ter problemas. Responderam-lhe: “OK, deixe estar, vamos contactar outra pessoa”.

1 comentário:

  1. Bem haja, Dr. Duarte Alves, por mais esta bendita manifestação de lucidez — um bem precioso e escasso por estes dias.

    Por sinal, só quem por cá não está nesta altura não percebe ou não quer perceber.

    Feliz de saber que por Tóquio a vida sempre regressa à mais desejável das normalidades. O resto é 'conversa'.

    Meus mais amigáveis cumprimentos,
    de Kyushu,

    Luís Filipe Afonso

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