24/03/2011


Muitas teses, algumas antíteses e todos os dias em busca da síntese



É difícil gerir a informação, separá-la dos rumores, contrariar a contra-informação, distinguir factos de opiniões e ver para lá do muito nevoeiro que estes dias têm produzido. Diz-se de tudo em todos os sentidos porque todos estamos diplomados à pressa em ciências que há escassas duas semanas faziam para todos parte do domínio do ocultismo. Hoje todos os “toquioitas” sabem o que são os becquerels, os microsieverts, o iodo 131, os raios gama e a fissão nuclear. Há quem diga que fervendo água ou filtrando-a se diminuem os níveis de becquerels mas há quem diga o contrário. Há quem beba água e há quem nem a cheire. Há quem ande de metro e quem tenha medo de estar “lá em baixo”. Há quem diga que o pior já passou e há quem durma vestido por receio de ser apanhado em fuga de pijama. Há quem mantenha um semblante carregado e quem consiga dar gargalhadas. Há quem comece todas as frases com “eu estou calmo mas...”, há quem coma compulsivamente, há quem emagreça com os nervos. Há quem fale de energia nuclear como os comentadores televisivos falam de não-importa-o-quê: com a segurança que impressiona os incautos de mãos dadas com a leveza dos neófitos. Tóquio, por estes dias, fez-me lembrar Cesare Pavese, no poema "Wind of March":


Sei la vita e la morte.
Sei venuta di marzo
sulla terra nuda -
il tuo brivido dura.
Sangue di primavera
- anemone o nube -
il tuo passo leggero
ha violato la terra.
Ricomincia il dolore.
Il tuo passo leggero
ha riaperto il dolore.
Era fredda la terra
sotto povero cielo,
era immobile e chiusa
in un torpido sogno,
come chi più non soffre.
Anche il gelo era dolce
dentro il cuore profondo.
Tra la vita e la morte
la speranza taceva.

Sem comentários:

Enviar um comentário