Os livros, esse amor continuado
Não compreender o prazer da leitura, é o mesmo que não compreender o prazer de nadar, ouvir música ou fazer amor.
Eduardo Prado Coelho
No sábado passado, Pacheco Pereira escreveu uma crónica interessante no "Público" sobre o papel dos livros na vida de um bibliófilo (dias depois da publicação geralmente é transcrita no blog). Tenta esboçar uma estatística do que é possível um leitor compulsivo ler ao longo da vida, avança com os seus próprios números (já terá lido, diz, cerca de 3500 livros e espera ler mais 1500 a 2000, num total de cerca de 5500) e elabora sobre aquela pergunta mais ou menos absurda com que todos os leitores compulsivos já foram confrontados: mas para que compras/ por que tens tantos livros? Não é demais explicar que um bibliófilo não compra livros para os ler. Compra livros para os ter. E depois irá tentando ler tantos quantos possível. A ratio que Pacheco avança (Almada dizia o mesmo e Eduardo Prado Coelho também), aponta para que um leitor com uma boa biblioteca terá cerca do dobro dos livros que leu. Julgo que no meu caso, também ando por essa proporção (mas é difícil dizer porque tenho livros espalhados - literalmente - por vários continentes...).
A partir da crónica do Pacheco, fui fazer a minha estatística, o que não é muito difícil porque desde 1993 que mantenho uma lista de todos os livros que li. Vejamos: nos últimos 18 anos li uma média de 54 livros por ano (era o que eu julgava "a olho", cerca de um por semana), embora com imensas variações: por volta de 35 livros/ ano em inícios/meados dos anos 90 (não contabilizo livros académicos e nessa altura estava na faculdade, além de que tinha menos dinheiro para comprar livros), subindo a partir de 2004, quando saí de Portugal (menos solicitações externas). O ano recorde é 2008, em que li 109 livros.
Se aos números do registo que mantenho (a "leitura-prazer", em sentido estrito), acrescentar os livros que li antes de 1993 (o início do registo), os livros que li na faculdade (licenciatura + mestrado), os livros que li para escrever a tese, os livros que li para escrever artigos publicados nos últimos anos, os livros que li por razões de trabalho e os livros que li mas não registei no meu caderno, creio que posso dizer que terei lido até hoje cerca de 1500 livros. O que me deixa dividido: por um lado, acho que sou um leitor assíduo, constante e compulsivo (com muito gosto). Por outro, acho que 1500 livros é muito pouco e os anos que me faltam (muitos, espera-se) não chegam para ler nem 10% daquilo que eu queria. Êrnani Lopes dizia sempre nas aulas: não vale a pena ler muito. Vale a pena ler apenas o que é muito bom. Confesso que não cumpro à risca.
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