12/11/2010

Até já ao Senhor do Adeus



Passámos anos sem saber o teu nome, de onde vinhas e por que o fazias. Reparámos no teu porte aristocrático, nos óculos grossos, no sorriso rasgado, no chapéu de chuva abengalado que tantas vezes trazias e que te equilibrava nas vertigens da noite. Lembro-me de ti desde os anos 90, no regresso de uma rota fixa às 4ª feiras à noite, em frente ao Sheraton da Fontes Pereira de Melo. Tinhas sempre um cachecol branco e acenavas, acenavas, acenavas. Hoje penso que não me perdoo pelo facto de nunca ter parado para falar contigo. Fizeste da nossa Lisboa um recanto onde se murmuram palavras cujo significado só nós sabemos. Hoje é a nossa vez de te dizer adeus, acenar para espantar o silêncio, como costumavas dizer. Talvez num aceno, no aceno de hoje, esteja também contido um “até já”.

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