Os urinóis do 38º andar
Nada marca tão profundamente a paisagem radicalmente urbana de Tóquio como as casas de banho do Hotel Mandarin Oriental. O que se vê na fotografia não engana – é o 38º andar, em cujas casas de banho, os urinóis (palavra horrível) foram montados encostados ao vidro. A sensação é um pouco estranha: dispenso-me de elaborar mas não será difícil perceber quão dispersa fica a atenção que se desejaria focada. Evidentemente, do ponto de vista arquitectónico joga-se aqui no plano da ambiguidade, potenciando um voyeurismo que encontra na imensidão das alturas uma desculpa que o redime. Por outro lado, explora-se, com inteligência, um momento de dupla fragilidade: o que advém dos contornos da fisiologia, aliado com a vertigem e o fascínio do abismo. Repito: a paisagem urbana de Tóquio toma conta de nós. Mesmo nos momentos inesperados.
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