ANTÓNIO DAMÁSIO EM TÓQUIO - pensar ou sentir? ou ambos?
Esta semana esteve em Tóquio António Damásio, que aqui veio receber o prémio de ciência da Fundação Honda. Damásio fez uma notabilíssima conferência sobre The Neurobiology of Emotions: Consequences for Medicine and Culture, mostrando que é não só um emérito cientista mas um excepcional divulgador de ciência. Além da relevância fisiológica das emoções ou da ideia do corpo como palco das emoções (assunto em que Damásio trabalha há muito tempo e sobre o qual eu já tinha lido qualquer coisa), o que mais me impressionou é que a abordagem dele não é desconstrutivista (ao contrário do que eu pensava) mas inclusiva. Ou seja: Damásio defende que não se trata apenas de analisar os efeitos orgânicos das emoções (o que ele também faz e todos experimentamos quando o ritmo cardíaco acelera se o avião em que viajamos tem uma turbulência forte, por exemplo) mas de integrar, organicamente, todo o tecido emocional. No limite, o que está em causa é a ruptura definitiva entre sentir e pensar (o que ele há muitos anos chamou o "erro de Descartes"). Ao assumir-se como um “cartógrafo” das emoções (a expressão não é dele mas talvez a pudesse subscrever), Damásio falou ainda do impacto de tudo isto sobre o processo decisório, desde o general que tem de mandar disparar na guerra ao político que decide cortar benefícios fiscais passando pelo “mero” consumidor que, no supermercado, compra x ou y.
Fiquei com vontade de perguntar duas coisas: em termos conceptuais, como distingue ele “emoções” e “sentimentos” (ele passou por aqui mas não ficou claro para mim). Segunda pergunta: no decision making process é possível quantificar o peso de cada um dos factores desta equação?
Damásio foi notável e saí do Hotel Imperial cheio de orgulho pelo prémio que lhe foi entregue.
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