04/10/2010

PORTUGAL: questão que tenho comigo mesmo
(de Lisboa a Osaka, passando por Luanda)



De Lisboa a Osaka são 11072 quilómetros de distância: há que vencer muitas montanhas, galgar muitas estepes, dobrar muitos bojadores. É por isso que olho com a surpresa dos puros para uma sala cheia de gente, em Osaka, a celebrar Portugal. Gente que me fala num português que me custa a entender (mas muito melhor do que será alguma vez o meu japonês); gente que bebe vinho do Dão; que me pergunta pela Expo98; que cita Camões e Pe. António Vieira; que cantarola Amália e grita "Viva o fado" (não ousei dizer que a senhora já não está entre nós); que esteve na festa da Quinta Patino; que importa bananas da Madeira e vinho do Douro; que dedilha "Barco Negro", "Coimbra" e "Verdes Anos"; que esteve em 'guimaranães' (sic).

Neste azimute improvável para a exegese da portugalidade, lembrei-me de Luanda, duma noite de fados na Ilha, em que alguém dizia, tombado pela noite e pelo tinto: "Até se vê Cacilhas do lado de lá!". Juro que dum canto da janela do restaurante Ambrosia, em Osaka, também se via a mátria. Estou como o O'Neill: Portugal é uma questão que tenho comigo mesmo.

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