CARTA À ACADEMIA SUECA

(em vésperas do anúncio do nobel da literatura - um post em que não se fala do Japão!)

Exmos. Senhores,

Indo V. Exas anunciar amanhã o prémio nobel da literatura, permito-me humildemente dirigir esta epístola com uma ou outra sugestãozinha - porventura a esta hora já tomaram uma decisão, mas nunca se sabe.

O que eu queria sublinhar junto do alto critério de V. Exas. é que há três nomes a quem a Academia provavelmente nunca dará o prémio e isto, acrescento eu, muito injustamente. Ora, eu queria dizer que os óbices colegiais que emanam de Estocolmo pecam talvez por critérios pouco literários.

Aí vão os três nomes: António Lobo Antunes, Salman Rushdie e Philip Roth. Ui, ui, já estou a ver o esgar de desconforto nessas carinhas escandinavas... Mas permitam-me: Lobo Antunes não leva o prémio porque pensam V.Exas. que os portugueses já levaram a medalhita com o Saramago. O que lá vai, lá vai, mas como direi? O Antunes é que era! Não se poderá remediar a coisa? Além de que, se V.Exas. fizerem a estatística, verão que a língua portuguesa, atento o número de falantes, está prejudicada. E já que não deram o prémio a Machado de Assis (nada obsta o facto de ele estar morto, há quem até troque correspondência com ele mesmo assim), Clarice Lispector ou Gabriela Llansol, poderiam talvez considerar o Antunes.

Quanto a Rushdie e Roth, tenho cá para mim que a razão pela qual não lhes dão o prémio é simétrica. É que há uns senhores que ficariam muito zangados, não é assim? Nada tem a ver com o mérito literário dos escribas mas apenas e só com considerações exógenas. Roth é demasiado qualquer-coisa (que me abstenho de referir) e Rushdie nem se fala, pese embora as contrições da última década.

Apesar disso, poderiam talvez V. Exas. tomar boa nota, como se diz no ofício do escriba destas linhas, destes nomes para os anos vindouros. Mas, por favor, tenham em conta que estes rapazes já não são propriamente novos e a lei da vida é inexpugnável com todos, inclusive, imagine-se!, com os escritores.

Pronto: aqui fica. Se de todo em todo estas sugestões não tiverem cabimento e V. Exas. não conseguirem desempatar a decisão, parece que há um livrinho que foi este ano editado em Bruxelas, sobre um tal de Garrett que só não ganhou o prémio porque teve o azar de nascer antes do Sr. Nobel. Parece que o ópusculo não é mauzinho, diz quem leu.

De V. Exas. criado atento e venerando,

DBA