07/10/2010

TÓQUIO A MEUS PÉS





No bar do 45º andar do Hotel Ritz Carlton (para o get-together mensal do Young Diplomats in Tokyo), olho pela janela e lembro-me dum texto de Julio Cortazar, esse maravilhoso escritor argentino, nascido em Bruxelas porque pai era diplomata. Lembro-me dum texto dele chamado "A cidade adormecida" (cito de memória), sobre Buenos Aires vista dum 10º andar dum edifício. Dizia Cortazar que, vista de cima, Buenos Aires parecia à noite uma cidade tranquila, harmoniosa, silenciosa, embalada pela escuridão redentora. Fiquei por momentos ali a pensar se o mesmo se poderia dizer de Tóquio. E a resposta é negativa: nem vista dum 45º andar (dum 45º andar de cortar a respiração) esta cidade parece adormecida. Mesmo àquela altura, por detrás dum vidro que só convoca silêncios, Tóquio é, ainda assim, electrizante, arrancada para sempre dum repouso que não alcança.

(Vargas Llosa: pacífico e justíssimo. Não fosse Llosa andar metido pela política e já tinha ganho há anos. Duas notas pessoais: disse ao meu colega do Peru, ao meu lado na recepção, do prémio (ele não sabia, estávamos ali ao mesmo tempo que saiu o anúncio) e o homem rejubilou. Foi do comité de apoio a Llosa quando ele se candidatou à presidência peruana e aproveitou para dizer que finalmente a Academia tinha deixado de premiar comunistas (sic). Segunda nota: fui um convertido tardio a Llosa porque sou céptico relativamente à literatura latino-americana. Puro preconceito meu. Foi o Luis Gaspar da Silva quem me alertou, em Luanda, que Llosa não era daquela "escola regional" e me emprestou uns livros. Recordo do encantamento quase infantil com que li "Conversas na Catedral).

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