19/10/2010

REQUIEM PELO MERCADO DO ROQUE SANTEIRO (LUANDA)



Só hoje, ao ler o jornal com que começo o dia, The Daily Yomiuri, soube que o mercado do Roque Santeiro, na Sabizanga, em Luanda, tinha sido encerrado a 15 de Setembro e transferido para a periferia (o candongueiro para lá chegar custa 1000 kwanzas!).

Quando cheguei a Luanda, disse que queria ir ao Roque. Olharam para mim com ar de espanto: que não, que não era possível, que era perigoso, que me assaltariam, que tudo poderia acontecer, que não se responsabilizavam. Cedi – mas não desisti e lá acabei por convencer o Sargento Ferreira a passarmos de jipe ao largo, o mais encostadinhos possível às largas avenidas atulhadas de sapatos, alguidares, espingardas, mangas, t-shirts, esferográficas, máquinas de calcular, carcaças de automóveis, pneus, cadáveres de computadores, cadeiras partidas, colchões sem molas, sebentas revolucionárias, candeeiros retro, óculos graduados, telemóveis desbloqueados, livros de poemas do Agostinho Neto e tudo o mais o que a imaginação ditar e o engenho sonhar. Diz-se que no Roque há tudo e se não há no Roque, não existe.

Jaime Bunda, o herói mal amanhado de Pepetela, tem uma genial descrição do Roque Santeiro em perseguição de desviados contra-revolucionários pelo amaranhado mercantil. Agora isso já não se fará nunca mais: mesmo transferido para outro local, acabou o Roque da Sambizanga. E a verdade é que com ele, está a acabar também uma certa Luanda e uma certa Angola. Malgré tout, tive ainda a sorte de conhecer um resquício de tais eras.

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