Um post onde se fala do "romance", da "Time", de Frazen, do "Expresso", de António Guerreiro, do Miguel Sousa Tavares, da Margarida Rebelo Pinto e de Eduardo Lourenço
António Guerreiro, que é talvez quem melhor escreve na imprensa portuguesa hoje em dia, escreveu no "Expresso" de 15 de Janeiro um ensaio sobre o "romance como o cancro da literatura". Era um grito de alguma revolta contra o artigo de Grossman na Time e que transformou Jonathan Frazen no hype da literatura contemporânea. A Time fez a publicidade que nenhuma agência jamais conseguiria, dizendo de Frazen ser the great American novelist. Mas, como Guerreiro bem recorda, Grossman (que bloga aqui) tem uma frase que, embora escrita como elogio, é crudelíssima: diz que Freedom é um "grande romance à século XIX, mais do que à século XXI". E isso fez-me lembrar uma entrevista que reli recentemente onde Eduardo Lourenço, elegante, humorado e subtilíssimo, dizia de "Equador" de Sousa Tavares, que era "o último grande romance do século XIX português".
Isto leva-me ao ponto seguinte: ando à semanas para "compra/ não-compra" o Freedom mas depois disto acho que já não me apetece muito lê-lo... Alguém já se aventurou?
E já agora: não partilho da tese de Guerreiro quanto à morte do romance como sub-produto literário da burguesia romântica (o que, como tese, nem sequer é novo). Há é que fazer a distinção entre o lixo tóxico para manicures sub-urbanas que querem entrar no Lux, enredadas à procura de glamour nos livros de Rebelo Pinto (e pseudo-aventureiros engatatões de carro desportivo a ler o Sousa Tavares: dá quase no mesmo) e aquele outro patamar em que ficamos suspensos das páginas como quem fica suspenso da vida. Aqueles livros que nos levam a tactear um terreno onde já não se distingue a luz da sombra.
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