21/01/2011


Quioto: o Templo Dourado






"O Templo Dourado é uma construção de dois andares, dominando o lago - dito «Espelho de Água» - de um jardim. Pensa-se que foi acabado em 1398, quinto ano da época Oei. O arquitecto do rés-do-chão e do primeiro andar é do tipo doméstico «Shinden» com persianas de baixar. O segundo andar é uma sala de cinco a seis metros quadrados, no mais puro estilo Zen, com uma porta central de almofada e cruzetas, e janelas de florões de ambos os lados. O telhado é em ripas de ciprestes. É do tipo «Hokei», encimado por uma fénix em bronze dourado.



Igual à lua no céu noctrino, o Templo Dourado fora edificado como símbolo do tempo das trevas. Por isso era indispensável que o templo do meu sonho se erguesse dum fundo de noite densa - uma noite que o encerrasse de todos os lados. E dentro dessa noite negra, a textura de esplêndidas e esbeltas colunas repousava, calma, serena, levemente iluminada do interior. Quaisquer que fossem os discursos que lhe pudessem dirigir, era necessário que o templo maravilhoso continuasse a oferecer silenciosamente a todos os olhares a sua delicada arquitectura, e a sofrer o assalto das trevas circundantes.


Pensei também no fénix de ouro que no alto do telhado ficara, anos e anos, exposto às intempéries. O misterioso pássaro, de nunca anunciar o raiar do dia, de nunca bater asas, deveria ter-se esquecido de quem era.




Quando o meu pensamento se libertava, o Templo Dourado surgia-me como um magnífico navio atravessando o oceano dos tempos."

Yukio Mishima, O Templo Dourado

(à atenção de eventuais visitantes: ler "O Templo Dourado" de Mishima é obrigatório antes de vir ao Japão. Existe uma edição da Assírio mas a tradução é má. Podendo, é melhor ler as traduções inglesa ou francesa. Não sei o que vos diga sobre o Templo Dourado a não ser que é um espanto radical e absoluto. Mas como as citações - esse amor despudorado pelas palavras - existem como sinal de humildade (e não de arrogância como pensam alguns), deixo-vos com o Mishima. Não podiam aliás, literariamente falando, ficar em melhor companhia).

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