Quando Deus bateu à porta de Philip Roth
Ao 32º livro de Philip Roth, Deus entrou de rompante. Numa obra antropomórfica até ao limite, o homem-medida-de-todas-as-coisas cede lugar ao divino. É verdade que o Deus judaico estava desde sempre na obra de Roth. Mas o judaísmo ali era mais cultural do que teológico, mais sociológico do que espiritual. Agora Bucky Cantor confronta tudo pelo crivo da fé: não lhe bastava a mãe ter morrido de parto; o pai ser ladrão e estar preso; os amigos terem ido para a guerra (o tempo da narrativa é 1944); ele próprio ter sido dado como inapto para servir o exército e o melhor amigo morrer em combate. Era preciso mais para fazer Cantor rasgar o seu tempo: era preciso uma epidemia de poliomelite que destrói a vida pacata de um judeu de Newark (where else?) e lhe abana todo o edifício de vida. Mais do que a tessitura narrativa impecável a que Roth nos habituou, o que este livro nos faz pensar é se se abre um capítulo de um Roth místico. Quando Cantor se interroga Forget about God, he told himself. Since when is God your business anyway?, serão essas as preces do próprio autor?
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