31/07/2010


NOS 40 ANOS DA MORTE DE SALAZAR



«Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua
História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não
discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do
trabalho e o seu dever.»

No Portugal de 2010, discute-se isto tudo. Foi por isso que o 25 de Abril valeu a pena.

30/07/2010


LEUVEN, LA VEUVE




Desde 1425 que Leuven (Lovaina) tem uma universidade, sendo que hoje é a Katholieke Universiteit Leuven (KUL) que é a mais célebre instituição académica da cidade (e uma das mais reputadas da Europa). Em 1968, no seguimento de uma grave crise belga que opôs flamengos e francófonos (já não é de hoje...), a KUL cindiu-se e foi formada a Université Catholique de Louvain que existe numa outra cidade, formada propositadamente na altura na Valónia. Daí existirem duas Lovainas: Leuven (a flamenga) e Louvain (a francófona). Confusos? Eu também: ainda a semana passada fui parar a uma quando queria ir para a outra... Mas o melhor é que, em 1968, a ruptura académica foi ao ponto de, ao fazer-se a divisão do património da universidade, a biblioteca foi separada e a KUL (flamenga) ficou com os volumes de A a M e a UCL (francófona) com os volumes de N a Z...


As fotografias são do béguinage de Leuven, o mais bonito da Bélgica e património da UNESCO.









SUMMER TIME, SUMMER NIGHTS, SUMMER SPIRIT

Parabéns à Catalunha: hoje sinto-me também catalão!


29/07/2010


MOVING



Mudar de casa - e de cidade, e de país - é duríssimo. Olhamos para aqueles homens a encaixotar quatro anos em caixas de cartão e pensa-se, por força da fé ou pela fé da força, que, se tudo correr bem, voltaremos a ver as nossas coisas, daqui a uns meses no outro lado do mundo.

28/07/2010



BRUXELLES, LA PORTUGAISE

Estação de metro Botanique, com um painel de azulejos de Pomar e motivos de Fernando Pessoa:





Estação de metro Maelbeek, um painel de azulejos feito na fábrica da Viúva Lamego:





(descobri agora que há azulejos Viúva Lamego ainda nas seguintes estações/ cidades: Champs Elysées/ Clemenceau, Paris; Chabacno, México; Deák Ter, Budapeste, Friedhemsplan, Estocolmo; Martin Place, Sidney; Santa Lúcia, Santiago do Chile)

27/07/2010


E se viajar fosse assim?


O RENDEZ-VOUS



Esqueçam as moules, as batatas fritas, a cerveja, a BD, o Tintin, o Átomo ou o Jacques Brell. O verdadeiro símbolo nacional belga, o amigo de todas as horas, a instituição omni-presente é o rendez-vous. Descobri-o poucos dias depois de aqui chegar quando fui ao banco abrir conta. Apesar de munido de todos os documentos, não me deixaram fazê-lo porque não tinha marcado um rendez-vous. Tentei argumentar: não sabia desta necessidade, tinha comigo tudo o que era necessário, estava na frente do funcionário certo e não havia ninguém à espera. Por que é que não podia assinar os papéis e abrir a conta? Desolé, parce que vous n’avez pas un rendez-vous…

Rendi-me ao espírito cartesiano sistematizado à última potência: já não me atrevo a nada sem fixer un rendez-vous. E a verdade é que as horas são respeitadas e a coisa funciona.

Ontem, porém, tive ainda uma surpresa (after all these years…): liguei para determinada instituição para tratar dum assunto muito urgente relativo a um cidadão português. O assunto era mesmo muito urgente e eu tinha de falar com o director – e só com ele – imediatamente. Quando digo à secretária o que queria (sublinhando: uma rápida conversa por telefone), ela respondeu-me: Ce n’est pas possible de parler avec le Directeur par telephone, Monsieur. Il vous faut un rendez-vous…

(NB: Acabei por conseguir falar com o tal director por telefone)

26/07/2010


MARIA GABRIELA LLANSOL (1931- 2008)

ROTEIRO BELGA


« Meu ‘desmundo’ é feito de uma nostalgia imensa. »
Maria Gabriela Llansol
« Gabriela Llansol será o próximo grande mito literário português.
A escrita dela é fulgurante. Não há nada que se possa comparar.»
Eduardo Lourenço




Maria Gabriel Llansol viveu na Bélgica entre 1965 e 1985, vivendo em Leuven (de 1965 a Abril de 1975, período em que, por razões políticas, não foi a Portugal), Jodoigne (em duas casas distintas, uma, durante mais tempo e com mais relevância, na Avenue des Combattants e outra na Chausée de Tierlemont) e Herbais (junto a Piétrain, ainda na comuna de Jodoigne).

« Na Bélgica, sinto-me menos em terra alheia talvez porque está explícito que nenhum laço de origem política me liga a este país. Sem país em parte alguma, salvo no vazio em que me dei a uma comum idade. » (Finita)

Em Leuven, fundou a Escola da Rue de Namur, experiência pedagógica inovadora de base comunitarista, para crianças de diversas nacionalidades, onde trabalhou entre 1971 e 1975. Na escola pugnava-se pela “desblocagem psíquica individual”, e pelo “conhecimento e transformação do real”.




Em Abril de 1975, mudou-se para Jodoigne, para esta casa:





« Visita à casa que devemos alugar em Jodoigne. (…) Vemos o grande edifício, e o pátio, em relação com um pequeno jardim abandonado, através das grades do portão, fechado com uma corrente de ferro.» (Finita)

« Venho a esta casa [de Jodoigne], principalmente para escrever, perscrutar a história, receber, pesquisar, ler nos livros, cada página demoradamente, como convém. » (Finita)

«_______ “venho” a esta casa com o sentido indagador que lhe dou.» (Finita)


«o que me encanta na casa de Jodoigne é a vastidão activa do espaço; é a casa que terá primazia sobre todas, onde me sinto um ponto ínfimo; não um compositor mas um elemento ínfimo da composição a meditar.» (Finita)

« a casa de Joidogne é exemplo de mãe e lembra um barco: vela, alimenta, navega.» (Finita)

« A casa [de Jodoigne] pareceu-me grande, o jardim um terreno vago no meio de muros bem calculados e envelhecidos; nessa altura o portão ainda não era uma chave no espaço, apesar de ter a presciência de que, vindo para esta casa, me daria a uma escrita mais segura, feita da experiência dos silenciados ou de outras realidades, por hábito abandonadas, ou não penetradas.» (Finita)


A partir de 1975, e até 1979, Llansol vai envolver-se num outro projecto educativo, em Baraque, nos arredores de Louvain-la-Neuve (Baraque surgiu como uma experiência de gestão comunitária auto-suficiente, a partir do final dos anos 60). Neste bairro ficava a célebre Ferme Jacob, às vezes também referida como a Quinta de Jacob.





« Chegámos a esse território [a Quinta de Jacob] depois de uma longa viagem, com crianças, companheiros e animais. Nem todos os companheiros se amavam entre si, e por vezes os combates entre os cães da nossa matilha, que em breve seria dizimada pela doença, prefiguravam os conflitos que se travavam em silêncio e interiormente entre os homens. (…) Era no tempo em que as árvores caíam sem cessar pelos campos e caminhos, uma ausência de verde se anunciava pela terra.» (Uma data…)

« (…) na Ferme Jacob, sou mãos que trabalham com espírito que se dispersa.» (Uma data…).


« Hoje, a minha aproximação da Quinta de Jacob é uma visão de estrume. Estou farta da Quinta de Jacob.» (Uma data…)


Viveu ainda em Herbais, já nos anos 80, local que a marcou especialmente, sendo uma referência frequente na sua escrita. Daqui partiu para Portugal (Colares).





« um aqui poderosamente sobreimpresso » (sobre Herbais, Lisboaleipzig 1)

Outros locais de referência:

- Maredret, abadia beneditina do século XIX, na província de Namur, onde MGL se refugiava para ler e escrever. Aí terá lido as Obras Completas de S. João da Cruz, autor que a influenciou e marcou («Madredet era, à distãncia, a promessa de comunicação no silêncio…», Uma data…). MGL manteve correspondência com a Irmã Agnès, madre abadessa de Maredret.

O vastíssimo espólio llansoliano (uma "arca" no sentido pessoano do termo) está a ser trabalhado por uma equipa coordenada por João Barrento.

25/07/2010

Os meus dias por agora são assim

1. embalar livros e coisas que tais:



2. até chegar à fase, que se aproxima rapidamente, do caos total:



3. feito isso, ponho-me 'à estrada' mais ou menos assim:



4. até que chego aqui!


24/07/2010


MERCI, DANK U, OBRIGADO, GRACIAS, KIITOKSIA, THANKS, DANKE SCHON, ARIGATO, EFCHARISTO...



No momento em que escrevo esta mensagem, o blog registou 949 visitas em exactamente um mês. Nada mau. Abro o 'flagcounter' e olho para os países de onde os amigos vêm: predomina a Bélgica e Portugal, o que é normal. Em Espanha, Finlândia, Angola, Japão, Coreia do Sul, Reino Unido, S. Tomé e Príncipe, EUA, Chipre também acho que sei quem são os amigos que batem à porta. Mas confesso que depois há surpresas: que rosto ou rostos clicam num rato em Cabo Verde? Não consigo chegar lá... E na Alemanha ? e em França? e em Moçambique? e na Roménia ? e no Brasil ?

As bandeirinhas e os números escondem mistérios indisíveis.. mas, ainda assim, obrigado. 949 vezes obrigado. E Bom FDS.

23/07/2010


BELGIAN SENSE OF HUMOUR


Warning sign in Waterstones (Brussels store). I particularly like the word "now" in this context.




Poster of Greenpeace about Electrabel (the electricity company):



And this is the best: not far from where I live, there is this building where people use to stop and take photos as it is mentioned in some guides as a "Horta Building" (Victor Horta is a very famous art nouveau architect). The owners claim that the building is not by Horta and are fed up with the buses and crowds taking pics. So, they decided to put this sign.. the result is that now there are even more people taking photos... including me, of course!



(some argue that Belgian sense of humour, as I call it here, is driven by surrealism, one of the most famous products of this nation. point taken!).

22/07/2010


BRUXELLES, LA PORTUGAISE - O olhar pessoano



A estátua de Fernando Pessoa, em Ixelles, da autoria de Irene Vilar (1931-2008), foi inaugurada a 10 de Junho de 1989. Foi, à época, uma iniciativa da associação Atlântida com o apoio da Fundação Engº António de Almeida e com a participação da Embaixada. Quase 20 anos depois, resultante dum acordo de cooperação entre a Comuna de Ixelles e a Câmara Municipal de Lisboa, foi feito a reestruturação do espaço envolvente: a praça foi baptizada "Square Pessoa" e foi colocada calçada portuguesa (vieram quatro calceteiros da Câmara de Lisboa expressamente para isso).







Inauguração da Square Pessoa, em Bruxelas, a 11 de Julho de 2008:



21/07/2010

21 de Julho



Dia Nacional da Bélgica - o questionário que o "Le Soir" fazia ontem a uma série de políticos (francófonos e flamengos) era se este seria o último 21 de Julho... havia respostas em ambos os sentidos mas a verdade é que ninguém respondia com muita convicção. Ser rei da Bélgica é, decididamente, uma das profissões mais difíceis do mundo!

20/07/2010


Ainda sobre a leitura lenta




BRUXELLES, LA PORTUGAISE
(ou como a burguesia pode ser um entrave ao progresso)



Das marcas portuguesas no espaço urbano de Bruxelas, uma das menos conhecidas está em Saint Gilles, a dois passos da embaixada, na praça central daquela que é uma das comunas que mais portugueses acolhe. Num canto da praça Van Meenem, está um busto de Almeida Garrett, da autoria de Rodrigues Castro, artista português que aqui vive.

Apesar de eu ter "vivido" quase 3 anos com Garrett (nota: as fotos do livro são exactamente as desta estátua), foi só há dias que me lembrei, justamente a propósito de Garrett, de uma personagem que conheci em Luanda, numa tarde de sábado: circulava-se de grupo em grupo, entre golos de gin tónico (esse antídoto malárico que complementa o fim dos dias) quando vejo aquela senhora que, me explicou, numa frase, o sentido da sua vida - "A burguesia é o maior entrave ao progresso. É por isso que sou uma garretiana!".





YES, MINISTER (ou reaprender o tempo)



- você, agora que vai para o Japão, já leu o Wenceslau de Moraes?, perguntou o ministro.

- estou a ler, o Wenceslau e outros, respondi eu.

- não se apresse, leia devagar, aquilo é para ler muito devagar...

19/07/2010



LIVROS



"Os livros não servem para sermos mais 'cultos, mais 'informados', mais 'preparados'. Servem para estarem presentes quando tudo o resto está ausente: eles são o refúgio do mundo quando o mundo persiste em avançar do avesso. Eles são o porto que nos aguarda quando a embarcação está perdida ou destruída. Eles são o primeiro e o último brinde aos amigos que não tivemos, aos sonhos que não vieram. E, como na canção francesa, a todas as mulheres que não nos amaram".

João Pereira Coutinho









16/07/2010



O LIVRO DO VERÃO 2010

Famílias inteiras reúnem-se em torno deste livro...





E nem os mais novos resistem àquilo que é um livro para todas as idades!

15/07/2010


De pequenino é que se torce o Wittgenstein

Conversa, numa paragem de tram, entre um miúdo belga e um miúdo marroquino:

- eu pensava que todos os marroquinos falavam francês, dizia o belga

- não, eu conheço um que não fala francês, diz o marroquino

- nada de nada, nem uma palavra ??, pergunta o belga espantado

- bom, sabe dizer duas ou três palavras, meia dúzia talvez, sei lá... dez no máximo!

- 10 palavras? mas o que é que ele pode fazer com 10 palavras?!? isso nem dá para explicar as vontades!