26/07/2010


MARIA GABRIELA LLANSOL (1931- 2008)

ROTEIRO BELGA


« Meu ‘desmundo’ é feito de uma nostalgia imensa. »
Maria Gabriela Llansol
« Gabriela Llansol será o próximo grande mito literário português.
A escrita dela é fulgurante. Não há nada que se possa comparar.»
Eduardo Lourenço




Maria Gabriel Llansol viveu na Bélgica entre 1965 e 1985, vivendo em Leuven (de 1965 a Abril de 1975, período em que, por razões políticas, não foi a Portugal), Jodoigne (em duas casas distintas, uma, durante mais tempo e com mais relevância, na Avenue des Combattants e outra na Chausée de Tierlemont) e Herbais (junto a Piétrain, ainda na comuna de Jodoigne).

« Na Bélgica, sinto-me menos em terra alheia talvez porque está explícito que nenhum laço de origem política me liga a este país. Sem país em parte alguma, salvo no vazio em que me dei a uma comum idade. » (Finita)

Em Leuven, fundou a Escola da Rue de Namur, experiência pedagógica inovadora de base comunitarista, para crianças de diversas nacionalidades, onde trabalhou entre 1971 e 1975. Na escola pugnava-se pela “desblocagem psíquica individual”, e pelo “conhecimento e transformação do real”.




Em Abril de 1975, mudou-se para Jodoigne, para esta casa:





« Visita à casa que devemos alugar em Jodoigne. (…) Vemos o grande edifício, e o pátio, em relação com um pequeno jardim abandonado, através das grades do portão, fechado com uma corrente de ferro.» (Finita)

« Venho a esta casa [de Jodoigne], principalmente para escrever, perscrutar a história, receber, pesquisar, ler nos livros, cada página demoradamente, como convém. » (Finita)

«_______ “venho” a esta casa com o sentido indagador que lhe dou.» (Finita)


«o que me encanta na casa de Jodoigne é a vastidão activa do espaço; é a casa que terá primazia sobre todas, onde me sinto um ponto ínfimo; não um compositor mas um elemento ínfimo da composição a meditar.» (Finita)

« a casa de Joidogne é exemplo de mãe e lembra um barco: vela, alimenta, navega.» (Finita)

« A casa [de Jodoigne] pareceu-me grande, o jardim um terreno vago no meio de muros bem calculados e envelhecidos; nessa altura o portão ainda não era uma chave no espaço, apesar de ter a presciência de que, vindo para esta casa, me daria a uma escrita mais segura, feita da experiência dos silenciados ou de outras realidades, por hábito abandonadas, ou não penetradas.» (Finita)


A partir de 1975, e até 1979, Llansol vai envolver-se num outro projecto educativo, em Baraque, nos arredores de Louvain-la-Neuve (Baraque surgiu como uma experiência de gestão comunitária auto-suficiente, a partir do final dos anos 60). Neste bairro ficava a célebre Ferme Jacob, às vezes também referida como a Quinta de Jacob.





« Chegámos a esse território [a Quinta de Jacob] depois de uma longa viagem, com crianças, companheiros e animais. Nem todos os companheiros se amavam entre si, e por vezes os combates entre os cães da nossa matilha, que em breve seria dizimada pela doença, prefiguravam os conflitos que se travavam em silêncio e interiormente entre os homens. (…) Era no tempo em que as árvores caíam sem cessar pelos campos e caminhos, uma ausência de verde se anunciava pela terra.» (Uma data…)

« (…) na Ferme Jacob, sou mãos que trabalham com espírito que se dispersa.» (Uma data…).


« Hoje, a minha aproximação da Quinta de Jacob é uma visão de estrume. Estou farta da Quinta de Jacob.» (Uma data…)


Viveu ainda em Herbais, já nos anos 80, local que a marcou especialmente, sendo uma referência frequente na sua escrita. Daqui partiu para Portugal (Colares).





« um aqui poderosamente sobreimpresso » (sobre Herbais, Lisboaleipzig 1)

Outros locais de referência:

- Maredret, abadia beneditina do século XIX, na província de Namur, onde MGL se refugiava para ler e escrever. Aí terá lido as Obras Completas de S. João da Cruz, autor que a influenciou e marcou («Madredet era, à distãncia, a promessa de comunicação no silêncio…», Uma data…). MGL manteve correspondência com a Irmã Agnès, madre abadessa de Maredret.

O vastíssimo espólio llansoliano (uma "arca" no sentido pessoano do termo) está a ser trabalhado por uma equipa coordenada por João Barrento.

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