14/07/2010

AS PUTAS DA MINHA RUA



A minha rua em Bruxelas é, quando o sol foge esgotado e a lua circula tímida, prolífica em – digamos como Natália – sacerdotisas do amor. Passam devagar, cabelos longos e vestes curtas, maquilhagem exagerada e colorida, adereços reluzentes de falsidade, peitos generosos de silicone e carteiras de alças longas que balançam ao sabor dos passos descontraídos. Há já algum tempo, eu ia a chegar a casa, já tarde, num sábado à noite e, quando saio do táxi, vejo aquela que se podia chamar Amélia (“dos olhos doces”...), rosto habitual naquela esquina, encostada a uma soleira. Disse-me “Bonsoir cheri”. Depois de um segundo de hesitação, respondi: “Bonsoir, ça va?”. Quando chego tarde a casa, está lá sempre, mais acima ou mais abaixo, e faz-me um cerimonioso aceno de cabeça. Vou ter saudades desta Amélia de que nunca soube o nome. Pode ser puta, mas é a puta da minha rua.

1 comentário:

  1. Todos temos uma puta na nossa rua. Pena é que não tenhamos todos uma na nossa vida, Amélia de olhos doces e bonsoir cheri pelo menos nos sabados a noite.

    ResponderEliminar