05/07/2010


LOS DIAS LOCOS DE MADRID




Sempre que vou a Espanha, fico com a sensação que os filmes do Almodóvar não são obras de ficção mas um documentário longo, continuado e realista sobre um país que, nas últimas três décadas, se reinventou. Uma certa Espanha de outrora está a desaparecer – a Espanha do Vale dos Caídos, dos supermercados de fronteira a vender espargos e melacotons, dos caramelos da viúva Solano, da peseta fraca, da pobreza envergonhada, dos curas de cabeção. Ainda lá estão? Presupuesto. Mas hoje há também uma Espanha da nova onda, moderna, arejada, aberta, cosmopolita, livre, descomplexada e vanguardista. A casa de Bernarda já não é Alba (se calhar nunca foi), a honra já não se resgata aos tiros às cinco em punto de la tarde. As freiras com ar piedoso ainda são o reconforto espiritual da burguesia de Salamanca que lê o ABC mas já nem as suas devotas preces resgatam as almas. Madrid não é uma cidade bonita, mas é uma cidade viva, a pulsar em cada esquina. Da fusão do flamenco dos tablaus com o tecnho-pop, resultou ‘una vida loca’. Madrid está muito à frente.

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