12/04/2011

A velha de chapéu preto que lia Rimbaud


Dia e noite de réplicas (mas eu prometi que não voltaria a este assunto), resgatado com um passeio de meia hora, noite avançada, para arejar e comprar um chocolate (“come chocolates, pequena, come chocolates, olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais do que a confeitaria”). Passo em Roppongi e detenho-me por um instante em frente às vidraças do Almond.

(foi a JGC, que aqui viveu há uns anos, quem primeiro me falou do Almond, dizendo que era o ponto de encontro obrigatório da Tóquio dos anos 90)

Era quase meia noite e chovia. Caído o véu de certa hora, as esquinas de Roppongi enchem-se de meninas de generosidade farta e chulos de peso correspondente. Numa mesa encostada ao vidro, de vista debruçada para a rua, uma velha senhora de chapéu preto e flor branca (sakura!), bebericava um chá por uma xícara (a minha Avó dizia sempre xícara, Camilo também, não tem nada de brasileirismo) e lia poemas de Rimbaud em francês. Num pratinho cor-de-rosa, muito japonês, esperava um éclair. A xícara – agarrada com uma elegância que fazia lembrar Sophia – fumegava. Já não me lembro bem, mas acho que o livro de Rimbaud também.

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