27/04/2011


O AMANTE




Vejo-o todos os dias na reunião. Senta-se sempre no mesmo lugar, na última fila. Entra com o porte majestático de quem transporta confiança em si e no mundo. O ar exótico inspirado em misticismo oriental é temperado pelo corte impecável de fatos ingleses e gravatas italianas. No cabelo, o excesso de brilhantina não chega a comprometer a pose. A elegância, como qualquer elegância digna desse nome, é estudada ao ponto de parecer descontraída. Ouve o que se passa com ar ausente mas firme. Poderia estar a fumar uma cigarrilha, se acaso déssemos com ele de fato de linho branco encostado à balaustrada de um navio ao largo da Indochina.

Sabia que o conhecia. Mas quem era? Ao fim de várias semanas percebi que fugira das páginas de Duras e era, afinal, o comerciante rico de “L’Amant”. Nem sei como se chama mas agradeço-lhe ter-me recordado uma das frases mais belas da história da literatura: Très vite dans ma vie il a été trop tard.


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