29/03/2010


VALTER HUGO MÃE

Havia quatro razões para não ler este livro: (1) uma capa horrorosa; (2) um título absurdo; (3) uns artigos de jornal que referiam hugo mãe como "o escritor pop do momento"; (4) um livro anterior ("o apocalipse dos trabalhadores") de que não gostei. Ora bem: contra estas razões, decidi comprar e ler o novo livro de valter hugo mãe, "a máquina de fazer espanhóis". Em boa hora: a escrita é límpida, madura e arrojada. A cadência narrativa tem uma musicalidade própria, guiando-nos pela dor do senhor silva que, aos 84 anos, se vê viúvo, perdendo mais do que laura, perdendo o sopro de lucidez que o mantinha de pé. Há na escrita de hugo mãe um experimentalismo que nunca chega a ser pretencioso, tacteando terrenos virgens mas com uma segurança notável. O arrojo de ter um escritor de menos de 40 anos a dar corpo a um personagem que leva quase 9 décadas de vida é talvez a fragilidade mais evidente do romance: falta corpo e densidade a algumas das viagens de antónio silva. Mas, apesar de tudo, julgo que é um aspecto menor na escrita de alguém que aceita correr o risco de escrever para reinventar a linguagem.

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