06/04/2010


O AMOR É UM LUGAR ESTRANHO

Em 1924, Hannah Arendt, uma jovem judia alemã de 18 anos, entrou na Universidade de Marburgo e começou a frequentar as aulas de Martin Heidegger, jovem e brilhante professor de 25 anos. Tornaram-se amantes. No início dos anos 30, Heidegger torna-se reitor, defende Hitler e o Partido Nacional Socialista, faz a apologia do nazismo e expulsa e persegue alunos e professores judeus. Hannah Arendt foge para França e depois para Lisboa, daqui partindo para os EUA. Não estabelecem contacto durante 17 anos. Em 1950, Arendt, que tinha estado envolvida em campanhas pelos direitos dos judeus, volta à Alemanha e retoma o contacto com Heidegger, então alvo de perseguições pelo novo regime. Hannah, nesta altura já professora em Nova Iorque, mobiliza esforços pela sua reabilitação, gere os seus direitos autorais nos Estados Unidos e escreve em defesa do antigo mestre que “ele tinha uma natureza fundamentalmente boa”. Em 1960, numa dedicatória privada, sussura: [a MH], "a quem permaneci fiel e infiel, sempre por amor”.

Além de esta estória nos levar a reler as teses de Arendt em “A condição humana” e “As origens do totalitarismo”, leva-me sobretudo a um desabafo: o amor é um lugar estranho. Mais: o amor é o mais estranho de todos os lugares.
(post dedicado a um amigo, hoje corroído pelas estranhezas deste lugar. ele sabe quem é).

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