11/04/2010


Em 1977, Vladimir Nabokov morreu na Suíça. Deixou um conjunto de cartões (era aí que escrevia os seus romances) com "The Original of Laura". Em conversa com a família, Nabokov tinha deixado indicações expressas que, caso morresse antes de terminar o livro (como veio a acontecer), as fichas deveriam ser destruídas. Durante mais de 20 anos, as ditas fichas ficaram fechadas num cofre de um banco suíço porque a família não chegava a acordo sobre o que fazer. Quando a viúva morreu, em 1991, o filho Dimitri leu esse "projecto" encerrado há vários anos. De novo o dilema: destruir, respeitando o desejo do pai? ou publicar, oferecendo ao mundo o último trabalho de um dos mais importantes escritores do século XX? Dimitri anunciou a publicação em 2008, dizendo que também Virgilio tinha deixado indicações para destruir a "Eneida" e Kafka sobre a "Metamorfose". A "Time" disse tratar-se do evento editorial do ano; a "Die Zeit", que leu as fichas, disse que as mesmas eram "Nabokov vintage". Martin Amis, que tinha conhecido pessoalmente o autor russo-americano, bateu-se pela destruição. Publicado o livro, constata-se afinal que não se trata de um romance, mas de um projecto de romance, notas soltas, não buriladas, inacabadas, ideias ainda por sistematizar, faltando um 'corpus' narrativo que haveria de chegar, tivesse Nabokov vivido mais uns meses. A minha edição é da Penguin mas o que eu gostaria mesmo de ver é a edição especialíssima e restrita de 500 exemplares que foi feita pela revista "Playboy", com cuja edição americana Nabokov colaborava como cronista.

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