29/04/2010



...a mim, hoje, só me interessam as portas que abril não abriu.

19/04/2010


AS 3 VIDAS - JOÃO TORDO
Amigo estimado e conhecedor destes assuntos recomendou-me "As 3 Vidas" de João Tordo, assegurando-me que era um nome a registar e seguir na novíssima literatura portuguesa. Segui o conselho e li. O livro tem tudo o que se pode pedir a um bom romance americano: imaginação, estória, ritmo, cadência cinematográfica, bons diálogos. Tudo como se faz nos "States". Não tem mal nenhum seguir a escola americana. O problema do livro é que tem Paul Auster a mais e William Faulkner a menos. Mas isto é uma questão de gostos.

16/04/2010


CADERNO DE MEMÓRIAS COLONIAIS, de Isabela Figueiredo

Se há uma coisa que a memória de Portugal tem de fazer é repensar o passado colonial e libertar-se duma herança historiográfica importada do Estado Novo, do luso-tropicalismo freyrista e do mito do português suave. Isabela Figueiredo tenta contribuir para tal (o que, em si, tem mérito) mas resvala para um testamento memorialístico para onde confluem Édipos mal resolvidos e panfletismos de mau gosto, resultando num texto (?) desarticulado e às vezes maçador. Esta tendência de resolver na literatura os problemas de casa (Martin Amis padece da mesma doença...) não me agrada.

THINGS I WILL MISS ABOUT BRUSSELS (IV) - "Fontainas": The best pub in town: lovely staff, nice decoration (very good photos), laid-back clientele, easygoing atmosphere. And wonderful Saturday afternoons in the sunny terrace, reading the newspaper! (...ok, it was not always sunny...).

15/04/2010


PHILIP ROTH

Although "The Humbling" is far from being Roth's masterpiece, the truth is that this man in purely unable to write bad books. Here, we fly over Simon Axler, a famous aging actor facing the sunset of his career. As I went through those pages, it came to my mind a very cynic, violent but at the same time human sentence of Friedrich Dürrenmatt in "The visit": «le monde a fait de moi une pute; je ferai du monde un bordel». Touché.

13/04/2010


THINGS I WILL MISS ABOUT BRUSSELS (III) - “Pralines” – The Swiss chocolates are the most famous but no one does then like Belgium. There are “pralines” for every taste, every price, every costumer, every occasion. My favourite: Marcolini (the good news is that there is a Marcolini shop in Tokyo!).

11/04/2010


Em 1977, Vladimir Nabokov morreu na Suíça. Deixou um conjunto de cartões (era aí que escrevia os seus romances) com "The Original of Laura". Em conversa com a família, Nabokov tinha deixado indicações expressas que, caso morresse antes de terminar o livro (como veio a acontecer), as fichas deveriam ser destruídas. Durante mais de 20 anos, as ditas fichas ficaram fechadas num cofre de um banco suíço porque a família não chegava a acordo sobre o que fazer. Quando a viúva morreu, em 1991, o filho Dimitri leu esse "projecto" encerrado há vários anos. De novo o dilema: destruir, respeitando o desejo do pai? ou publicar, oferecendo ao mundo o último trabalho de um dos mais importantes escritores do século XX? Dimitri anunciou a publicação em 2008, dizendo que também Virgilio tinha deixado indicações para destruir a "Eneida" e Kafka sobre a "Metamorfose". A "Time" disse tratar-se do evento editorial do ano; a "Die Zeit", que leu as fichas, disse que as mesmas eram "Nabokov vintage". Martin Amis, que tinha conhecido pessoalmente o autor russo-americano, bateu-se pela destruição. Publicado o livro, constata-se afinal que não se trata de um romance, mas de um projecto de romance, notas soltas, não buriladas, inacabadas, ideias ainda por sistematizar, faltando um 'corpus' narrativo que haveria de chegar, tivesse Nabokov vivido mais uns meses. A minha edição é da Penguin mas o que eu gostaria mesmo de ver é a edição especialíssima e restrita de 500 exemplares que foi feita pela revista "Playboy", com cuja edição americana Nabokov colaborava como cronista.

"O melhor emprego que já me ofereceram foi o de gerente de um bordel: liberta-nos do medo e da fome, o lugar é tranquilo durante a manhã e há bastante vida social ao fim do dia". William Faulkner, "Entrevistas da Paris Review", 1956

09/04/2010

Um blog político que frequento escrevia ontem que o sonho de qualquer homem é ter uma mulher de direita na mesa e uma mulher de esquerda na cama. Não sei se é o sonho de qualquer homem mas será de muitos que conheço. Mas não valia a pena trazer para a blogosfera, em termos de ciência política, o que o Marco Paulo, esse grande artista, já tinha cantado há tantos anos. Está lá tudo.


THINGS I WILL MISS ABOUT BRUSSELS (II) - “Frites” – Don’t ask me why because I can’t explain it. But the Belgian “frites” are the best in the world. They are crispy, crunchy, sometimes spicy, and moderately salty. They are served with almost everything but their zenith is the happy marriage with the “moules”. Needless to say, it goes better with a “blanche”. [Hint: best frites in town are in Place Jourdan and in Place de la Chapelle].

06/04/2010


O AMOR É UM LUGAR ESTRANHO

Em 1924, Hannah Arendt, uma jovem judia alemã de 18 anos, entrou na Universidade de Marburgo e começou a frequentar as aulas de Martin Heidegger, jovem e brilhante professor de 25 anos. Tornaram-se amantes. No início dos anos 30, Heidegger torna-se reitor, defende Hitler e o Partido Nacional Socialista, faz a apologia do nazismo e expulsa e persegue alunos e professores judeus. Hannah Arendt foge para França e depois para Lisboa, daqui partindo para os EUA. Não estabelecem contacto durante 17 anos. Em 1950, Arendt, que tinha estado envolvida em campanhas pelos direitos dos judeus, volta à Alemanha e retoma o contacto com Heidegger, então alvo de perseguições pelo novo regime. Hannah, nesta altura já professora em Nova Iorque, mobiliza esforços pela sua reabilitação, gere os seus direitos autorais nos Estados Unidos e escreve em defesa do antigo mestre que “ele tinha uma natureza fundamentalmente boa”. Em 1960, numa dedicatória privada, sussura: [a MH], "a quem permaneci fiel e infiel, sempre por amor”.

Além de esta estória nos levar a reler as teses de Arendt em “A condição humana” e “As origens do totalitarismo”, leva-me sobretudo a um desabafo: o amor é um lugar estranho. Mais: o amor é o mais estranho de todos os lugares.
(post dedicado a um amigo, hoje corroído pelas estranhezas deste lugar. ele sabe quem é).

05/04/2010


THINGS I WILL MISS ABOUT BRUSSELS (I) - Une Blanche
I must say that before coming to Brussels I was not a beer guy. But the truth is that you can't miss it when you live here. As we say about bacalhau and the French about their cheese, there is a different beer for each day of the year. I'm not sure if this is true and, in any case, I haven't tried them all in almost 4 years. Still, my favourite is 'blanche', a cold, fresh, light and socializing 'blanche'. It goes with a meal, after a meal, as an apero or just as a good excuse to go out and mingle with friends. Hemingway once said that a man is never alone by the sea. True. But it is also true that a man is never alone "by" a 'blanche'. Encore une blanche, s'il vous plait.

02/04/2010

CLARICE LISPECTOR
Boas notícias à 6ª feira santa: a monumental biografia de Clarice Lispector, por Benjamin Moser, vai ser editada em português em Setembro! Clarice é um dos autores de língua portuguesa mais perturbantes de sempre, uma obsessão de muitos anos, um mistério insondável e irresolúvel, um labirinto sem chave.