01/04/2011


Estrada para andar (e ponto final nos posts sobre o sismo)


(salvo acontecimentos supervenientes ou alguma coisa digna de registo, este é o último desta série de posts sobre o sismo de 11 de Março. A vida continua e este blog também.)

Há dias dei por mim a pensar nisto: os portugueses chegaram ao Japão em 1543, faz por agora 468 anos. É muito ano, dir-se-ia, quando na verdade é um instante se tivermos das coisas aquela perspectiva sábia que têm os magos orientais que diziam preferir não opinar sobre a revolução francesa porque tinha sido há muito pouco tempo. Quase 5 séculos por aqui e o que me ocorreu pensar foi: é preciso azar para estar aqui justamente quando no Japão ocorre o pior sismo de sempre e o quinto pior sismo da história, desde que há registos. Mas não adianta deter-me nestas elucubrações: feliz por as fazer sentado na tranquilidade do meu sofá. Três semanas depois, os dias correm velozes, Tóquio regurgita, multidões circulam, entoam-se cantos e proclamam-se juras, voam gestos e olha-se para trás concluindo que foi preciso isto, foi preciso este passo, porventura duro, para, como o poeta-engenheiro-decadentista-e-futurista-às-vezes, “sentir tudo de todas as maneiras”. Viver o inesperado, caminhar sobre um chão de que me aproprio, ser espectador e testemunha de dias que trazem sofrimentos indizíveis sabendo que só isso, só mesmo isso, pode, por mais paradoxal que pareça, ser peça clarificadora para a leitura do esplendor do mundo.


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