31/08/2010


MURAIS EM BRUXELAS



















PORQUE SIM



30/08/2010


FÉRIAS - RESUMO ICONOGRÁFICO







"Espero pelo verão como quem espera por uma outra vida." - Ruy Belo








"Passou a vida a olhar pela janela. Morreu com o olhar vazio." - Marcello Duarte Mathias

27/08/2010


Jorge de Sena, o físico



"Que sucederia se também ele entrasse no seu próprio banho de sangue? Confusamente o sabia, na mesma carne que tremeu. Sairia dali velho e mirrado, cego e surdo, sem outra voz que um crocitar de um corvo. Então, sorvendo bem a saliva e pigarreando forte, escarrou na água."

Jorge de Sena, O físico prodigioso


Lev Tolstói, o artífice



"...à notícia desta morte, o primeiro pensamento que ocorreu a todos os senhores reunidos no gabinete incidia no significado que tal falecimento teria nas remoções ou promoções dos membros ali presentes ou dos seus conhecidos. 'Agora talvez me calhe o cargo de Stabel ou de Vínnikov."

Lev Tolstói, A morte de Ivan Iliitch

26/08/2010


MIGUEL REAL, O OBSERVADOR



"Sempre que um grão de trigo cai levado por um forte vento, o povo fala. Se o grão não cai mas o vento é forte, o povo fala também. O povo fala porque é natural o falar e estranho o silêncio."

Miguel Real, Carta de Sócrates a Alcibíades, seu vergonhoso amante


SUSAN SONTAG, A EUROPEIA



"O meu relacionamento com H deixa-me perplexa. Quero que ele seja impremeditado, irreflectido - mas a sombra das expectativas dela acerca do que é um 'caso' perturba o meu equilíbrio, deixa-me desajustada".

Susan Sontag, Renascer, Diários e Apontamentos 1947-1963


DOCE VERÃO

22/08/2010


GORE VIDAL, O ESTETA



"Acima de tudo, odeio a política. Odeio o presidente. Odeio o Congresso. O Supremo Tribunal é particularmente odioso. Detesto o exército. O corpo diplomático devia ser liquidado, de preferência com canapés envenenados. Odeio Washington." (destacado meu)

Gore Vidal, Washington DC

21/08/2010


DJUNA BARNES, A BARROCA



"Somos apenas pele à volta de um vento, com os músculos crispados contra a nossa condição mortal. Dormimos na interminável poeira das recriminações contra nós mesmos. Estamos cheios, até à garganta, com os nomes que atribuímos à infelicidade."

Djuna Barnes, O Bosque da Noite

19/08/2010


FILIPE R. DE MENEZES, O ESTUDIOSO




"O que a República Francesa demorara décadas e o choque do caso Dreyfuss para conseguir, a sua homóloga portuguesa tinha concretizado no espaço de alguns meses. 'O Mundo' estava extático: O grande estadista que estudou e redigiu esta lei, o sr. dr. Afonso Costa, acaba de cimentar, definitivamente o glorioso edifício da revolução. Chama-se a isto fazer repúlica, organizando a república."

Filipe R. de Menezes, Afonso Costa

18/08/2010


JEAN COCTEAU, LE POETE RAVISSANT



"Faites semblant de pleurer, mes amis, car les poètes ne font que semblant d'être mort."

Jean Cocteau, Le Livre Blanc


GEORGE STEINER, THE GREAT




"Como Kierkegaard, Greene sabe que o mais solitário dos homens é aquele que não tem segredos - ou, mais rigorosamente, que não tem ninguém cujos segredos possa trair."

George Steiner, Georges Steiner em The New Yorker

17/08/2010


DULCE MARIA CARDOSO, A TECEDEIRA



"As luzes do aeroporto são muito brilhantes, o chão escorregadio, os viajantes atrasados são chamados ao microfone, há os que se abraçam e se beijam, os que choram, os que sorriem e os que acenam como se não fossem ter saudades. As chegadas e as partidas são assunto de gestão cautelosa. O mundo é sempre grande de mais para os que se estão a separar. E não se torna pequeno para os que se acabam de juntar."

Dulce Maria Cardoso, O Chão dos Pardais


PEDRO ROSA MENDES, O PEREGRINO



"A religião oficiosa de Timor é uma adoração simbiótica entre vassalagem medieval e piedade franciscana. A Igreja do Vaticano deu aos timorenses o missal em tétum e a condição institucional de nação perseguida. É um capital que se projecta no tempo psicológico da culpa, uma eternidade!, muito além do tempo histórico da perseguição. O que vejo: a língua eucarística e a narrativa de vitimização são os dois tesouros nacionais do génesis do Estado Lorosae."

Pedro Rosa Mendes, Peregrinação de Enmanuel Jhesus

15/08/2010


ISMAIL KADARÉ, A SURPRESA




"As opiniões dividiam-se em duas correntes. Os comunistas, como seria de esperar, desejavam a guerra com ardor e arrebatamento. Os nacionalistas não eram contra, mas o ardor e o arrebatamento não faziam o seu género. Segundo eles, o excesso de ardor estava mais ligado aos interesses da Rússia do que aos interesses da Albânia. Na sua opinião, aquela não se lançara às cegas no conflito sem avaliar as suas próprias vantagens. A Alemanha seria uma potência ocupante mas a Rússia vermelha não era melhor. Além disso, a Alemanha restituía-lhes o Kosovo e Çameri enquanto a Rússia, para além dos kolkhozy, nada de nada! Parecia até provável que a "Albânia étnica", que figurava nos panfletos alemães, em vez de os alegrarem arrepiassem os comunistas."

Ismail Kadaré, Um Jantar a mais

14/08/2010


ARTO PAASILINNA, O VIRTUOSO



"Se a pessoa bebia, começava a ter problemas no fígado e no pâncreas; se comia à vontade, o índice de colesterol aumentava; se fumasse, agarrava-se aos pulmões um cancro assassino - fizesse o que fizesse, o finlandês arranjava sempre maneira de culpar o vizinho. (...) Em conversa sobre todas estas coisas, os suicidas começavam a dizer-se que, bem vistas as coisas, até estavam em melhor situação que os seus compatriotas obrigados a permanecer na sua sinistra pátria. Esta constatação encheu-os de felicidade pela primeira vez em muito tempo."

Arto Paasilina, Um aprazível suicídio em grupo

(post dedicado à ACM - e às horas doces e amargas de Helsínquia)


RUY DUARTE CARVALHO (1941-2010)




No Verão de 1999, fiquei fechado em casa a escrever a minha tese de mestrado (mestrado pré-Bolonha...). Foram muitas semanas a trabalhar ao computador mais de 12 horas por dia. Uma 4ª feira, em finais de Agosto, achei que ia "flipar": saí de casa, entrei na primeira agência de viagem que encontrei e pedi um bilhete para um sítio qualquer para um fim-de-semana alargado na praia. Condição: sol e partida imediata na manhã seguinte. Fui para Porto Santo, era o que havia. Sózinho? Não: fui com "Vou lá visitar pastores", de Ruy Duarte de Carvalho. Lembro-me do meu espanto, sentado numa esplanada madeirense a ler o livro, espanto esse que de imediato partilhei com José Tolentino de Mendonça, com quem jantei no Funchal. Estava eu longe de imaginar que os meus destinos se iam cruzar com Angola. Muito do que percebi de Angola, percebi graças a Ruy Duarte de Carvalho (sobretudo as "Actas da Maianga"). No modo de cruzar saberes, Carvalho era quase um homem renascentista. Morreu ontem na Namíbia.

11/08/2010

FREDERICO LOURENÇO, O HELÉNICO



"Lá fora a noite algarvia
tem a respiração de Novembro;
na escuridão do quarto
as trevas devolvem-nos
o nosso reflexo, como se
a luz que nos habita
transformasse
as paredes em espelhos."

Frederico Lourenço, Santo Asinha e outros poemas

SIRI HUSTVEDT, THE SUBTLE



" 'Once upon a time' becomes 'once upon no time'. Trauma memory has no narration. Stories always take place in time. They have a sequence, and they are always behind us. Those four nights of reenactment were wordless. I could not say, Oh, yes, that happened four days ago when my husband, daughter, our dog, and I were driving home from the country. A speeding van hit us at an intersection. The car was completely destroyed but we survived. The experience has no context, no place, and has it has in no way diminished by distance. The violence burst into my sleep nowhere and shocked me with the same force as the accident itself."

Siri Hustvedt, The shaking woman or A history of my nerves

09/08/2010

DeLillo, the master




"The true life is not reducible to words spoken or written, not by anyone, ever. The true life takes place when you are alone, thinking, feeling lost in memory, dreamingly selfaware, the submicroscopic moments. He said this more than once, Elster did, in more than one way. His life happened, he said, when he sat staring at a blank wall, thinking about dinner".

Don DeLillo, Point Omega


TONY JUDT (1948-2010)

06/08/2010


Blog intermitente....







...untill September!


INSTANTÂNEOS DE BRUXELAS

Jardim do Mont des Arts:


Uma tarde de calor em Saint Catherine:


Cafe Novo:


Vendedor na Grand Place:


Fontainas:

05/08/2010


YOURCENAR E BRUXELAS




A relação de Margarite Yourcenar com Bruxelas - ou com a Bélgica em geral - foi sempre distante. E, no entanto, foi aqui que nasceu, no nº 193 da Avenue Louise, a 8 de Junho de 1903. Viveu nesta casa pouco tempo, já que, como se sabe, a sua vida foi pródiga em partidas até se instalar definitivamente com Grace nos EUA.


Este é o prédio que existe actualmente no nº 193 e que não corresponde à casa onde Yourcenar nasceu. O original foi destruído em 1970.



Num trecho da sua própria obra, Yourcenar faz uma referência a este local. Este trecho faz parte dum monumento de Jean François Octave que existe hoje, mesmo em frente ao nº 193.







Um dia, eu ia a passar com alguém em frente a esta casa e comentei - "sabias que foi nesta casa que nasceu a Margarite Yourcenar?". Resposta: "quem é essa?". Mesmo involuntário, foi uma forma de harakiri...

04/08/2010

E JÁ QUE HOJE ME DEU PARA FALAR DE LIVROS DE QUE NÃO GOSTEI...



... aqui fica mais um e o acertadíssimo comentário de Duarte Calvão sobre o livro.