AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO EM TÓQUIO
Há um Portugal pré-globalização, rural, escondido, telúrico. E há imaginação, criatividade, arrojo e audácia. Eis quanto basta para Miguel Gomes fazer de "Aquele querido mês de Agosto" uma surpresa luminosa. O filme é um objecto plástico irrepreensível, aproveitando o que poderiam ter sido debilidades iniciais e transportando-as para o coração dum olhar urbano sobre a dureza da serra. Não há ali ponta de proselitismo (e era tão fácil cair nesse erro). Há apenas tempo de respiração e uma fuga permanente às soluções fáceis. Quando se poderia esperar que a nudez sertã surgisse de mãos dadas com uma puerilidade sentimental, o filme é rasgado por uma crueldade imensa, que lhe insufla credibilidade (não confundir com realismo).
A certa altura, a banda itinerante canta uma canção de Tony Carreira que diz "Adeus amor, mas tenho o mundo à minha espera". Quem vive ou viveu mais de seis meses em terra alheia, sabe bem do que se fala.
(o filme passou ontem à tarde em Tóquio no EU Film Days e repete amanhã, 5ª feira, dia 9, às 18h30. Ver informações aqui.)
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