31/10/2010

LEV TOLSTOI, a dias do centenário da sua morte





“Olhava para Marianka e amava-a (assim lhe parecia) da mesma maneira que amava a beleza dos montes e do céu, e nem pensava entrar em quaisquer relações com ela. Parecia-lhe que entre ele e ela não podiam existir nem aquelas relações que Marianka tinha com Lukachka, nem, ainda menos, as que eram possíveis entre um oficial rico e uma rapariga cossaca. Parecia-lhe que, se tentasse fazer o mesmo que faziam os seus camaradas oficiais, teria trocado o seu estado de contemplação altamente delicioso por um mar de sofrimentos, desilusões e arrependimentos. (…) Há apenas uma felicidade: quem está feliz tem razão.”

Lev Tolstói, Cossacos

30/10/2010

Tokyo in a stormy day



The sky falls into tears and everybody tries to escape the inclement typhoon Chaba that is visiting Tokyo today. Breakfast at Dean and Delluca (not at Tiffany's), The Daily Yomiuri bought at the corner-shop and a long cozy afternoon laying on the sofa. Tokyo can also be quite unpleasant outside. But indoors it is as good as we want it to be. Have you all a wonderful weekend.

29/10/2010

Telemóveis: o manner-mode



Os telemóveis com que vivi até hoje (e fui feliz com alguns) tinham função sonora e função vibratória. No Japão também têm essas funções (e mais outras 50) mas o que interessa é a designação. À função “vibrar” os japoneses chamam manner-mode. Porque fazer barulho em público, gritar, ter o telemóvel aos gritos é considerado (God bless them) falta de educação. As crianças não choram em público, o metro atulhado permanece em silêncio e nos comboios as pessoas sussurram (alguém, europeu, dizia-me outro dia que indo a conversar normalmente com o companheiro de viagem, foi mandado calar pelos restantes passageiros). Nos restaurantes os casais não conversam e podem passar um jantar inteiro em silêncio, havendo mesmo alguns restaurantes que têm uma pequena biblioteca pelo que as pessoas podem comer na mesma mesa, cada uma com o seu livro. Nas reuniões é normal – para desespero, incompreensão e frustração dos ocidentais – haver minutos de silêncio, para depois se retomar a conversa, refrescada. Um outro europeu dizia-me que o único medicamento verdadeiramente eficaz aqui à venda são os comprimidos para a tosse. É que admite-se tudo, menos romper o silêncio, uma espécie de pacto urbano que ninguém assinou mas que todos cumprem.

28/10/2010

Nem bom gosto, nem mau gosto: o pós-gosto



Com muito gosto, passe tanta repetição, andei anos de volta do conceito de pós-modernidade e, posteriormente, do de hiper-modernidade: na altura interessaram-se sobretudo os arquétipos políticos em cada um deles. Num sítio improvável vim ter uma aula prática sobre tudo isto – na loja Shibuya 102, um mega armazém de sete andares de roupa para adolescentes. Tudo ali é inesperado, insólito, inimaginável. Não se pode, nem se consegue, uma classificação unívoca, desde logo porque, para usar a terminologia kantiana, aquilo não encontra correspondência nos nossos conceitos apriorísticos. O que é aquilo? Quais são as chaves de leitura? Que fluxos comunicacionais entre o objecto e nós próprios são possíveis de estabelecer? Para um ocidental capaz de superar a disfuncionalidade discursiva com que forçosamente é confrontado, aquilo é o paradigma do insólito: nas cores, nos cortes, nos estilos, nas posturas, nas atitudes, nos padrões, no diálogo com o espaço. Aquilo rasga, definitivamente, qualquer possibilidade de análise estética. Uma observação séria e atenta tem de concluir que não se pode dizer que se trata de bom ou mau gosto. O gosto morreu – Shibuya 102 consagra o pós-gosto. Bem vindos à catedral da pós-modernidade. ´
(o video acima é só uma tentativa, que fica aquém, de dar uma ideia do estilo "Shibuya 102")

27/10/2010

QUANDO GIL VICENTE SE CRUZA COM O TEATRO NOH


O actor João Grosso, do Teatro Nacional D. Maria II, a representar o Auto da Barca do Inferno.

No quadro das celebrações dos 150 anos do Tratado de Amizade entre Portugal e o Japão, veio aqui o actor João Grosso, do Teatro Nacional, num projecto de colaboração com o grupo Sakurama. Fez-se um jantar de gala comemorativo (jantar inteiramente português, com 150 participantes), antecedido de uma peça “fusionando” Gil Vicente e o teatro Noh, apresentada no edílico cenário dos jardins do hotel Four Seasons. Na altura, apresentei um texto sobre as pontes entre Gil Vicente e o teatro noh que pode se lido aqui. (relativamente ao teatro noh, haverá mais para dizer mais fica para outra ocasião).

A peça noh apresentada pela companhia japonesa Sakurama.

26/10/2010

O MISTÉRIO DO SONO



Ichiro Kawasaki foi um diplomata japonês que escreveu “The Japanese are like that” (1955). O livro é tão politicamente incorrecto que só um japonês o poderia escrever mas tem imenso sentido de humor e assinalável espírito crítico. É bastante datado e é assim uma espécie de antropologia cultural feita nos programas do Goucha. Mas lembrei-me de uma das teses lá defendidas a propósito dum facto que aqui me impressiona: os japoneses dormem imenso na rua. Segundo o embaixador Kawasaki tal deve-se ao arroz que daria sono e aumentaria o volume do estômago e provocaria, por isso, quebranto inelutável. Eu, de facto, não sei qual é a razão mas o facto impressiona: dormem no metro (imenso, sono profundo mas acordam no exacto momento da estação que pretendem), nos restaurantes (de braços cruzados sobre a mesa, ao ponto de no MacDonalds de Shibuya eu já ter tido dificuldade em arranjar mesa porque várias estavam ocupadas com pessoas a dormir), e nas lojas (já tive de acordar um empregado de uma loja para pagar o jornal). Será a cidade que dá sono? Será do arroz? Há, de facto, qualquer coisa aqui que parece que suga a energia mas isso não impede que Tóquio fervilhe duma criatividade que parece não conhecer ocaso.








(este último senhor estava a dormir de smoking no Starbucks, de chinelos pretos e meias encarnadas).

25/10/2010

Lavadores de janelas



Foi no terraço do 55º andar do Mori-Building, em Roppongi, que os vi entrar numa caixinha pequena, onde mal cabiam dois homens de pé, mais os adereços (teriam medo?). Um guindaste de aço agarrava-os à vida, suspensos a muitos de metros de altura – 238, para ser rigoroso. Deviam ter frio, ali expostos a um vento inclemente que, do alto, varria a cidade. Eram dois pontos mínimos, suspensos no ar. Vivem onde os olhos não alcançam, estes aprendizes de pássaro. Qualquer dia vou candidatar-me a ser lavador de janelas em arranha-céus. Pintor do céu, para ver o mundo de cima, como os anjos.

24/10/2010


METROPOLIS

"Metropolis" is Japan's n. 1 English magazine and you may want to have a look here. Can you find out why?

23/10/2010

THE TEA-PARTY MOVEMENT



Êrnani Lopes dizia sempre nas aulas de geopolítica que o mundo em que vivemos é mutável, complexo e incerto. Mas será ainda muito pior se formos dirigidos por donas de casa cujo único currículo é a liderança de grupos anti-masturbatórios, alucinados que querem ensinar o criacionismo em vez do evolucionismo e pastores pseudo-visionários incapazes de ver para lá da cerca do quintal. God bless America.

22/10/2010

Incompreender o Japão
Se Maria do Rosário Pedreira, que leio diariamente e a quem o país tem tanto a agradecer, quiser cá vir, tenho muito gosto em servir de guia. Está convidada.
Manhã cedo em Tóquio: o metro, uma francesa, uma japonesa, Angela Merkel e Álvaro de Campos

Entrei no metro na estação de Omote-sando e peguei no livro sobre o bushido, o código de ética dos samurais. Três estações me separam do destino final mas o livro é tão bem escrito que não resisti a esse exercício semi-masoquista que é ler no metro, entalado entre a mole humana e tentando vencer o desafio de repor a ordem nas palavras sovadas pelos apertos da multidão. Na estação seguinte, Ayoama-itchome, cruzam-se várias linhas e saiu muita gente mas entraram quase outros tantos entre as quais duas raparigas nos seus mid-twenties, uma ocidental e outra japonesa. A autóctone tinha o cabelo pintado de laranja, sacola à tiracolo, maquilhagem carregadíssima que lhe fazia os olhos cavados e distantes do sono. A europeia (francesa, percebi depois) tinha piercings em cada poro e lambia os lábios com uma pseudo-sensualidade aprendida em revistas femininas vendidas em quiosques suburbanos. Falavam inglês (mal) e a francesa queixava-se da família do namorado enquanto bebericava um copo de café, do qual tacticamente me afastei. A japonesa ouvia e dizia que sim com a cabeça mas mantendo uma distância ontológica, perante uma indignação estudada e crescente da outra, que agitava as mãos, afagava o peito e inclinava a cabeça para trás, como que a sinalizar que não aguentava mais os despautérios do proto-futura sogra. Ao pescoço trazia um fio muito fino onde balançava uma medalha de santo enegrecida. A japonesa continuava a ouvir, atenta e fiel, mas ia desviando o olhar para o telemóvel. (Estávamos já em Nagatacho, saem muitos funcionários públicos, é a estação dos “ministérios”, as meninas acomodam-se ao canto mas não se desviam nem a francesa interrompe o crescente de indignação). O metro arranca para a estação seguinte, Hanzomon, onde tenho de sair, mas a japonesa faz o favor de ditar o juízo final antes, explicando à francesa o mais improvável dos pontos de vista na óptica de Paris (e de Lisboa, concedo). A francesa ficou em silêncio, eu fiquei em silêncio, tive mesmo a sensação que toda a carruagem ficou em silêncio e que o mundo todo ficou em silêncio. Lembrei-me da senhora Merkel a dizer que o multiculturalismo falhou. Lembrei-me de Álvaro de Campos e de “sentir tudo de todas as maneiras”. E pensei que é uma pena que Angela Merkel nunca tenha lido Pessoa.

21/10/2010

IR ÀS COMPRAS AOS ARMAZÉNS MITSUKOSHI (CHIADO, ANOS 80)



Quando eu era imberbe, ia-se ao Chiado às compras. Calcorreava-se a rua do Carmo e a rua Garrett, comia-se um croissant na Bénard, esperava-se que a Mãe comprasse umas louças no José Alexandre, viam-se as montras do Paris em Lisboa e acabava-se nos Grandes Armazéns do Chiado. Já nada disto faz sentido assim justaposto mas os anos 80 eram feitos destes retalhos. Passear em Tóquio nos armazéns “Mitsukoshi” é um pouco a mesma lógica. Naturalmente com outra dimensão, a loja existe desde 1673 (!), foi a primeira loja no Japão a oferecer serviços de entrega ao domicílio, a vender produtos importados (na era pré-Meiji), a ter um elevador e até 1923 os clientes tinham de se descalçar à porta e passear na loja de chinelos. As senhoras dos romances de Tanikazi iam às compras ao Mitsukoshi (v. “Naomi”). Hoje, os empregados conservam um certo ar “histórico” que dá patine aos armazéns Mitsukoshi. Têm um público próprio (diferente do que vai às compras a Ginza, a Shibuya ou a Omote-sando) e uma aura particular. Quase que cheira aos croissants da Bénard.

20/10/2010

JAPÃO NA VANGUARDA TECNOLÓGICA - O diálogo português





O Japão construiu no ocidente uma imagem de sofisticação e de vanguarda, sobretudo no domínio tecnológico que é, aliás, justíssima e bem fundada. Por isso, não evitei uma gargalhada de espanto quando descobri que o último grito tecnológico no domínio da meteorologia é o Galo de Barcelos de J. Dias Cardoso (aprendi aqui), à venda em Tóquio por 28 euros. Pode encontrar-se – segunda causa de espanto – na loja de design do MOMA (o de Nova Iorque, sim), em plena Omotesando, uma das avenidas mais sofisticadas desta capital. Junto a peças de Philippe Starck ou Alvar Aalto, lá está, de pleno direito, o nosso galinho de Dias Cardoso que muda de cor consoante o tempo. Há sempre espaço para reinventar o passado.

19/10/2010

REQUIEM PELO MERCADO DO ROQUE SANTEIRO (LUANDA)



Só hoje, ao ler o jornal com que começo o dia, The Daily Yomiuri, soube que o mercado do Roque Santeiro, na Sabizanga, em Luanda, tinha sido encerrado a 15 de Setembro e transferido para a periferia (o candongueiro para lá chegar custa 1000 kwanzas!).

Quando cheguei a Luanda, disse que queria ir ao Roque. Olharam para mim com ar de espanto: que não, que não era possível, que era perigoso, que me assaltariam, que tudo poderia acontecer, que não se responsabilizavam. Cedi – mas não desisti e lá acabei por convencer o Sargento Ferreira a passarmos de jipe ao largo, o mais encostadinhos possível às largas avenidas atulhadas de sapatos, alguidares, espingardas, mangas, t-shirts, esferográficas, máquinas de calcular, carcaças de automóveis, pneus, cadáveres de computadores, cadeiras partidas, colchões sem molas, sebentas revolucionárias, candeeiros retro, óculos graduados, telemóveis desbloqueados, livros de poemas do Agostinho Neto e tudo o mais o que a imaginação ditar e o engenho sonhar. Diz-se que no Roque há tudo e se não há no Roque, não existe.

Jaime Bunda, o herói mal amanhado de Pepetela, tem uma genial descrição do Roque Santeiro em perseguição de desviados contra-revolucionários pelo amaranhado mercantil. Agora isso já não se fará nunca mais: mesmo transferido para outro local, acabou o Roque da Sambizanga. E a verdade é que com ele, está a acabar também uma certa Luanda e uma certa Angola. Malgré tout, tive ainda a sorte de conhecer um resquício de tais eras.

18/10/2010


TRIP TO WONDERFUL KYOTO

Kyoto has been the imperial capital of Japan for more than a 1000 years, until 1868, when the flashing lights of Tokyo seemed to be more appropriate for a new and open Japan. The city in itself is not amazing but it has extraordinary spots where a preserved and natural charm from old times is still visible. Kyoto is the image of the classic Japan, from traditional wooden houses to the sacred shrines, from the Pontocho district to the walking geishas in narrow lanes along the Kamo-gawa (the river).

Beyond these gates, it is the imperial palace which I have not visited given I was not aware of the fact that one has to reserve the slot with several days in advance... I will be back then.



The tea-house of the Imperial Park - a secret well kept. It was empty, it is not mentioned in any guide. I found it by accident and it is a relaxing spot where silence and beauty meet for a while.



Nijo-jo castle, an amazing palace, built for the visitors and for the Shoguns. It was here that Emperor Meiji received the resignation of the last Shogun in 1867.




Ponto-Cho district, the geisha's area. They are still visible as one can see in the photo.





Kiyomizu-dera, the most beautiful temple in Kyoto and its defining sight. Dates back to 1633 and it is very well preserved.





17/10/2010

BOLAS DE BERLIM

No "Fugas" (Público) de ontem, sábado (16 Outubro), pode ser lido aqui.

16/10/2010


LÉONARD, O BISPO ALARVE DE BRUXELAS



Quatro anos na pátria do surrealismo não chegam para compreender as declarações do bispo de Bruxelas, Léonard (na foto), para quem "a SIDA é uma forma de justiça". Limito-me a citar: o partido democrata cristão (repito: democrata-cristão) belga-francófono já disse que era "inaceitável". Os socialistas falaram de "ignominia" e Rudy Remotte (Presidente da Valónia) classificou-as como "alarves". Por incrível coincidência, acabo de chegar a casa depois de ver uma exposição no Tokyo Metropolitan Museum of Photography sobre "A arte no tempo da SIDA". E acho que se este bispo alarve tivesse visto aquelas fotografias que eu vi esta tarde, tinha era estado de boca fechada. Há coisas que, em circunstância alguma, são justificadas pela liberdade de expressão.

15/10/2010


Um mês de Tóquio (ou o precipício da alteridade)



Sophia dizia que “viajar é olhar”. É, por isso, que para espanto de muitos, gosto tanto de viajar sozinho: porque só assim, no confronto com o silêncio – esse bem precioso e raro na parafernália e na fealdade de que são feitos a generalidade dos dias – se consegue verdadeiramente ter espaço para captar a essência do que nos rodeia. Porque só olhando se escuta, só escutando se aprende e só aprendendo se percebe o mundo à nossa volta, mesmo que percebendo o mundo à nossa volta nunca nos cheguemos a perceber a nós próprios (se é que, no limite, isso tem alguma importância). Um dos melhores livros sobre isto, uma espécie de gramática impura do viajante, foi escrita por Ryszard Kapuściński e chama-se Encountering the Other (ou coisa que o valha, porque o livro anda a navegar pelo oceano para vir ter comigo). É um ensaio notabilíssimo deste jornalista e escritor polaco, onde se faz a desconstrução, pelos olhos de um ocidental, sobre o “outro” ou os “outros” que por esse mundo fora, foram enchendo os dias (e as noites, presumo) daquele que era um viajante compulsivo. João Paulo II, a quem um dia uma criança perguntou por que razão é que viajava tanto, deu uma resposta lapidar: “Porque o mundo todo não está aqui”. É por isso que o Japão tanto me tem fascinado, pela diferença, pelo outro, pelos códigos, pelos conceitos (hoje andei de volta do que é o wabi sabi). Para um bibliófilo, (quase) tudo o que conta está nos livros (eu disse: quase), e, por isso, hoje celebro a sapiência de Sto. Agostinho: «O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página.» Cheguei faz hoje um mês: pela frente estão muitos dias e muitos livros.

14/10/2010


Communication barriers, I mean Walls, I mean IRON WALLS

Nunca antes experimentei isto: do ponto de vista da comunicação, há uma barreira total entre mim e o mundo à volta. Eles não percebem o que eu digo e eu não percebo o que eles dizem. Não há pontes de comunicação, não há língua em comum, não há escapes não verbais que funcionem. Claro que, como todas, esta é uma barreira que, não se derrubando totalmente, se vai esfumando com o tempo: eu vou começar a aprender japonês e, por força do tempo aqui passado, há sinais que acabarei por captar. Por ora, fico apenas boquiaberto quando digo aos meus interlocutors que não percebo e, mesmo assim, continuam alegremente a falar para mim perante os meus olhos esbugalhados.

Vejamos alguns exemplos práticos:



Como pôr a roupa a lavar? Que botões ligar? Como garantir que não vou dar cabo das minhas camisas? Não fosse a ajuda da JSF e andava de roupinha já muito encardida…


Ligar a televisão não é tão evidente como pode parecer: é preciso passar dos canais nacionais para o cabo. Mudar a língua de recepção. Enfim, zapar e aumentar e diminuir o volume… Vá, com este também já encarreirei…



Ao fim de algum tempo, naturalmente, é preciso comprar alguns produtos de higiene: ora, onde está o champô? A marca “Pantene” parece indiciar que se trata do que eu procuro… mas e se a Pantene tiver no Japão um produto para lavar bidés, desentupir canos de cozinha ou polir pratas? O que acontecerá ao meu cabelo? Será isto o champôo?

Estão a ver o tipo de dificuldades básicas do quotidiano?

13/10/2010


É 4ª FEIRA: VAMOS AOS SALDOS... DA FRUTA!

Das três cidades mais caras do mundo - Tóquio, Oslo e Luanda - já levo duas no papo. Convenhamos que revela algum espírito de generosidade e desapego aos bens materiais. Lembro-me dos jantares medianos na Baía de Luanda que custavam USD100 por pessoa ou da ida ao supermercado da ELF, na Rua António Barroso, que me levava EUR250 para fazer as compras da semana para uma pessoa só. No caso de Tóquio, ainda não estou plenamente instalado pelo que é difícil apurar com exactidão os gastos mas basta andar na rua para se perceber que os preços são exorbitantes.

As despesas de supermercado são talvez aquilo que consome maior fatia dos gastos quotidianos e, nomeadamente, a fruta que atinge preços que nem pensei que fossem possíveis. Ora veja-se aqui:

Kiwis vendidos à unidade e que custam 2 euros por peça...




Na época das castanhas, mas mesmo assim custam 20 euros o quilo.


Uma meloa custa 70 euros!

O Japão tem uma percentagem de terra arável relativamente reduzida (cerca de 11.5%), o que obriga a que a grande parte dos produtos agrícolas seja importada, elevando, e muito, os preços.

É verdade que a fotografia que se segue se refere a uma óptima esplanada (há poucas) numa das ruas melhores de Tóquio mas um café custa 10 euros:



É por isso que, às 4ªs feiras, o supermercado aqui da esquina está a transbordar - as frutas e legumes estão em saldo e hordas de japoneses saem de casa e empilham peras e ameixas nos carrinhos de compras.

Até amanhã que agora vou jantar e comer o reluzente ananás que comprei ainda há instantes...

12/10/2010

VIAGEM A OSAKA

No seguimento do jantar de trabalho em Osaka de que já aqui falei, aqui ficam algumas fotografias. Osaka é a 2ª cidade do Japão (se considerarmos que Yokohama é, no fundo, uma extensão da capital) e fica a 550 quilómetros de Tóquio. É uma cidade portuária e está em curso uma campanha internacional para relançar a imagem da cidade que atrai poucos visitantes. É considerada uma das "capitais" gastronómicas do Japão.

Aqui, o "Shinkansen", ou comboio-bala, que percorre em 2h30 a distância que separa Tóquio de Osaka:



Este painel de publicidade é considerado um ícone da cidade: (why...?)






O "edifício orgânico", um dos símbolos da cidade, do arquitecto italo-americano Gaetano Pesce. É património municipal. (Tiago Veloso: pensei em ti!)


O Castelo de Osaka. Dizem os críticos (ou os cínicos?) que é a única coisa que existe para ver em Osaka. Não é verdade, embora a cidade não tenha a riqueza histórica de Quioto e tenha sido bastante destruída com a guerra.




O pagode do templo de Shitenno-Ji e respectiva cerimónia religiosa budista.



11/10/2010


FASTEN YOUR SEATBELTS: IT'S YOYOGI PARK ON A SUNDAY AFTERNOON

Between Harajuku and Yoyogi Park, on a Sunday afternoon, the crowd goes… different. It’s actually a strange fashion but in the end of the day, who is strange here? They are called the cosu-zoku, something like “costumes tribe” and the garments may go from an Elvis Presley’s style, to a porn hero; from a manga/ anime character to a local rock star; from a rocky horror picture show tribute to a god-knows-what thing. They make Yoyogi more than an ordinary park where Tokyoites go for a relaxing sunny afternoon. Yoyogi became a touristic spot but also a field of respect and indulgence. These characters are bright, with their big and round expressive eyes. Their smile is, on the contrary, a bit sad, even if they don’t oppose, in any circumstance, to be photographed as if they were part of an open-air museum. The weird thing here (but why weird if we think well?) is that they also show a deep sense of dignity and they are never close to be ridiculous.

I’m not a sociologist, so I’m not going to offer any explanation for this (even though some common places come to my head). But, as I walked among them, in Yoyogi, yesterday, I was sure that, at least once a week, these guys are enjoying freedom at its full extent. Lucky them.